O confronto mais palpitante – e construtivo – do debate desta quinta-feira (12), na Rádio Gaúcha, deu-se entre Manuela e Marchezan no terceiro bloco. Foi o único embate direto entre os dois. O prefeito perguntou por que Manuela promete, caso eleita, interromper o processo de terceirização dos postos de saúde do governo atual.
Deu gosto de ouvir. Ocorreu ali uma vibrante discussão de ideias. Um enfrentamento genuinamente ideológico – que é o que se espera de uma boa discussão. São confrontos assim que revelam, em detalhes, o conjunto de pensamentos, doutrinas e visões de mundo de alguém. Ou seja, a ideologia de alguém.
Com a polarização irracional dos últimos anos, "ideologia" ganhou um sentido meio torto. Quando uma pessoa discorda de outra, não raro ela aponta o dedo e diz:
– Suas motivações são ideológicas!
Ora, queria que fossem o quê? Gastronômicas? É óbvio que são ideológicas, e ideologia foi justamente o que faltou nesta campanha. Candidatos insistiram, na propaganda eleitoral – e também no debate desta quinta –, em abstrações bonitinhas que, por si só, não dizem nada. Diálogo, por exemplo. Vão resolver tudo com diálogo. Educação? Diálogo! Transporte público? Diálogo!
Isso não é uma ideia, não é uma proposta, não é uma discussão, não é nada. Quem pode ser contra o diálogo? Aliás, outra questão: quem pode ser contra a retomada da economia? Candidatos que se dizem "a favor" têm prometido, com impressionante convicção, abrir todas as atividades econômicas com ou sem coronavírus. Isso não revela nada sobre o pensamento de ninguém – revela só oportunismo, porque é impossível prever o futuro.
Tivemos, de um modo geral, uma campanha vazia e sonolenta neste primeiro turno. Justamente pela falta de ideias, de consistência ideológica. Mas, no terceiro bloco do debate, Manuela e Marchezan brindaram os ouvintes com ideologia: ela explicando por que, na sua visão, o município deve administrar os postos de saúde; ele explicando por que, na sua visão, insitituições privadas fazem melhor esse serviço.
Em três minutos de interação, o eleitor pôde compreender a visão de mundo desses dois candidatos – e uma visão de mundo se aplica, claro, a qualquer outro assunto, da educação à segurança. É disso que precisamos, seja quem forem os escolhidos. De um segundo turno com ideologia.