O exitoso debate entre os candidatos à prefeitura de Porto Alegre teve momentos importantes, discussões necessárias e participações bizarras, como já é de praxe na política brasileira, onde até senador da República esconde dinheiro entre as nádegas. Tal como em São Paulo, teve candidato que cantou, confundindo a arena política com programa de auditório. Houve quem também atacasse o presidente Jair Bolsonaro, as medidas restritivas da pandemia e quem dissesse que reza todos os dias para o adversário não se eleger.
Tudo isso, ainda que possa não atender ao eleitor que quer conhecer propostas, faz parte do jogo democrático. Virou meme a frase do então candidato à presidência e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, ao se referir ao folclórico Cabo Daciolo: "A democracia é uma delícia" mas tem lá dessas coisas.
Dito isto, um fato presente no debate não se enquadra em nenhuma das opções anteriores. Não, não foi engraçado. Não é caso de terapia ou "desbunde", muito menos serve como justificativa dizer que se trata de um "mal amado".
Há meses tenho dedicado meus estudos sobre a violência de gênero e sinto dizer, caro leitor e cara leitora, que é por causa de comportamentos como este - antes encarados como "brincadeiras" - que milhares de mulheres morrem todos os anos. Você sabia que, no Brasil, uma mulher é morta a cada nove horas, reflexo desta violência à qual nos referimos? No período da pandemia, por causa do isolamento social, mais mulheres foram vítimas de seus agressores (que na maioria dos casos estão dentro de casa)? Você faz ideia do que é conviver com um companheiro violento e com ameaças constantes?
Daí a importância de repudiarmos também a violência psicológica. O que o candidato fez no debate da Rádio Gaúcha, brilhantemente conduzido pelo jornalista Daniel Scola, deve ser repudiado pela sociedade e servir de exemplo para que homens e mulheres reflitam sobre seus comportamentos. A divergência política é saudável. Manuela foi criticada politicamente por Marchezan (PSDB) e por Valter Nagelstein, que o fizeram de maneira íntegra.
O candidato que se diz defensor dos animas protagonizou as cenas que — repito — denotam desprezo por uma mulher, ao sugerir "intimidade" por um relacionamento anterior e ameaçar revelar assuntos de ordem pessoal. E, como se fosse pouco, mencionou a filha da candidata, de apenas cinco anos de idade.
Meu repúdio total a este tipo de comportamento. Faria bem o PROS, partido pelo qual concorre este senhor, que tomasse uma atitude. Em sua página, a legenda repudiou recentemente a "violência política" sofrida pela candidata à prefeitura de Cuiabá, Gisela Simona, que concorre pela sigla. E acrescentou que o PROS Mulher reconhece "a importância da mulher, enquanto essência da sociedade". Resta saber se o discurso vale só para a capital do Mato Grosso, ou se estende à capital do Rio Grande do Sul.