Centenas de pessoas estão infectadas por aí, rodopiando pelas ruas e mercadinhos do Rio Grande do Sul. São os pré-sintomáticos: eles já têm o vírus, mas não sabem disso. Só vão adoecer daqui a dois dias. E é nessa turma que mora o perigo.
– Nunca houve tantos pré-sintomáticos como agora. Por isso as pessoas precisam ficar em casa, para cortar essa cadeia de transmissão que acelerou o contágio – diz o epidemiologista Natan Katz, secretário adjunto de Saúde de Porto Alegre.
Ou seja, se você ficar em casa, caso seja um pré-sintomático, não vai passar o vírus adiante. E, se não for um pré-sintomático, não vai receber o vírus de quem é. Essa é a grande contribuição do distanciamento social.
Certo, mas e se eu for para a rua de máscara? E se eu manter a distância de dois metros para outras pessoas? E se eu usar álcool gel após tocar em qualquer superfície? Não reduz bastante minhas chances de contaminação?
Em tese, sim. Mas o infectologista André Luiz Machado, do Hospital Conceição, diz que é muito difícil seguir o tempo todo essas orientações.
– As pessoas mexem na máscara, coçam o olho, levam as mãos ao rosto, conversam com o atendente do armazém. Por mais que tentem fazer tudo certo, elas precisam ser humildes e reconhecer que é complicado cumprir sempre o passo a passo.
Em relação à máscara, aliás, André Luiz acrescenta que a peça de tecido – a mais usada pelo grande público – não tem "poder de filtragem suficiente" para impedir alguém de aspirar o vírus.
– Não é uma proteção para isso. Ela é eficiente para barrar a liberação do vírus quando um pré-sintomático, ou um assintomático, está usando a máscara. Aí, sim – analisa ele.
O método eficiente para fugir dos pré-sintomáticos, neste momento, é ficando em casa.
NATAN KATZ
Secretário municipal adjunto de Saúde em Porto Alegre
O professor de Infectologia da UFRGS Luciano Goldani, médico do Hospital de Clínicas, diz que boa parte dos infectados têm contado histórias semelhantes sobre como se contaminaram. Eles resolveram jantar, almoçar ou bebericar com velhos conhecidos. Aí, claro, entraram em contato prolongado com pessoas que, embora tivessem o vírus, ainda não haviam manifestado sintomas.
– Como ninguém usa máscara para comer, o risco era grande – afirma Goldani.
É o mesmo relato do infectologista André Luiz Machado: os pacientes que ele atende no Conceição se cuidavam na rua, no transporte coletivo, no meio das multidões. Mas, quando chegavam à vizinhança, ou ao pequeno círculo de amizades, relaxavam nas precauções. E assim se contaminaram.
– Não adianta, o único método eficiente para fugir dos pré-sintomáticos, neste momento, é ficando em casa – conclui o secretário adjunto Natan Katz.