Em duas semanas, o número de pacientes com coronavírus internados em UTIs cresceu quase 80% em Porto Alegre. Eram 79 doentes graves em 15 de junho – nesta segunda-feira (29), eram 141. Na terça (30), 137.
– A população precisa entender que nunca o distanciamento social foi tão importante – diz o secretário municipal adjunto de Saúde, o epidemiologista Natan Katz.
Mas há uma clara desmobilização na sociedade. As pessoas perderam o medo, cansaram da quarentena. A empresa In Loco, que monitora a adesão da população ao distanciamento, informava nesta terça (30) que apenas 43% dos porto-alegrenses estavam em casa.
Para se ter uma ideia, esse índice chegou a 70% em março, quando as restrições às atividades econômicas eram praticamente iguais às de agora. O raciocínio parece ser o seguinte: se o sacrifício de março e abril não serviu para nada, por que agora serviria? É uma pergunta torta.
Esperava-se, claro, que aquele sacrifício nos garantisse alguma tranquilidade meses depois, o que, de fato, não ocorreu. Mas é indiscutível que, na época, a curva de infectados foi achatada com eficiência: Porto Alegre atravessou 90 dias sem qualquer convulsão no sistema de saúde por causa do isolamento.
Ou esse movimento se repete agora, com a população esvaziando as ruas, ou a chance de pacientes morrerem por falta de atendimento nos hospitais vai ganhar força nas próximas semanas.
As medidas de prevenção não têm a capacidade de segurar uma pandemia. O que segura a pandemia são as pessoas dentro de casa.
NATAN KATZ
Secretário municipal adjunto de Saúde em Porto Alegre
– A gente sabe que as medidas de prevenção, com álcool gel, máscara e distância de dois metros entre as pessoas, têm um certo impacto na circulação do vírus, mas não têm a capacidade de segurar uma pandemia. O que segura a pandemia são as pessoas dentro de casa – afirma Natan.
Ele diz que a prefeitura segue abrindo leitos de UTI – mais 50 devem chegar à Santa Casa nos próximos dias. O problema é que, em qualquer sistema de saúde do mundo, uma demanda que cresce em ritmo tão acelerado, mais cedo ou mais tarde, atropela a oferta. Se não faltar leito, vai faltar respirador. Se não faltar respirador, vai faltar equipe médica.
A gente sabe, é uma chatice, é uma violência contra a economia, mas não há outra saída: se puder, fique em casa.