Em virtude da péssima relação do prefeito com a Câmara, não é de se duvidar que os vereadores derrubem o veto de Marchezan. Alguns mais por birra do que por convicção.
O veto se refere a cinco dos seis artigos de um projeto estapafúrdio que o parlamento aprovou, por 21 votos a 14, no fim do mês passado. O texto classificava como "essenciais" mais de 50 atividades – que iam de imobiliárias a comércio de veículos – e proibia a prefeitura de interromper todas elas.
Que fique claro: não há problema algum em liberar o funcionamento de imobiliárias ou revendas de carros, desde que isso ocorra como deve ocorrer. A prefeitura precisa ter autonomia para decidir rapidamente, de acordo com a evolução da epidemia, se abre aqui, se fecha ali, se libera isso, se restringe aquilo.
Essa decisões podem mudar de um dia para o outro, mas, se existe uma lei listando 50 atividades como intocáveis, qualquer pretensão de agilidade vai por água abaixo. Corretamente, então, Marchezan vetou o projeto – o único artigo mantido exige da prefeitura transparência na prestação de informações.
Só que agora os vereadores vão apreciar esses vetos. Se decidirem derrubá-los, a proposta é promulgada. E restará ao governo, então, entrar na Justiça alegando que a lei é inconstitucional – mais um desgaste que a tensa relação com o parlamento pode provocar.
Marchezan errou feio, desde o início do governo, ao nunca priorizar o contato com a Câmara – vereadores reclamam de nunca ter sido escutados e, de fato, nunca foram. Mas, se analisarmos o momento, o agora, o hoje, é inegável que o prefeito mais acerta do que erra. Ele conduz bem a crise da pandemia e, para continuar assim, vetar o projeto era inevitável.
Que os erros do passado não cobrem o preço agora.