O mérito maior do pacote de projetos enviado à Câmara pelo prefeito Marchezan, que promete reduzir para R$ 2 a passagem de ônibus, é ter botado a discussão na roda.
Porto Alegre enfim debate ideias concretas para evitar a falência do transporte coletivo – e são ideias que podem, claro, ser contestadas, desde que isso ocorra, de preferência, não com o intuito de soterrar a discussão, mas de construir ideias novas. Assim são os bons debates.
Já disse que me agrada a taxação dos aplicativos. E achei no mínimo criativa a proposta de trocar o vale-transporte por passe livre. Mas há um projeto estrambólico, injusto e grosseiro no tal pacote: o pedágio de R$ 4,70 para carros emplacados fora de Porto Alegre que entrarem na cidade. É indefensável.
Em primeiro lugar, porque diferenciar quem "é daqui" de quem "é de fora" me soa sempre mal – não pode o primeiro ter privilégios (ou direitos básicos) que o segundo não tem. E, vamos combinar, no caso de impedir moradores de Cachoeirinha, por exemplo, de circular livremente em Porto Alegre, temos um curioso caso de xenofobia paroquial.
Temos também uma demonstração de que Porto Alegre, de alguma forma, não entende o seu papel no Estado: uma capital deve ser global, coletiva, ela é um ímã, um polo de atração, uma cidade que acolhe, aceita e abraça. Uma capital se organiza para receber, não para barrar – se Porto Alegre insistir nesse bloqueio, sugiro entregar o posto a Caxias do Sul, Pelotas ou Canoas, municípios que nunca me cobraram um centavo para entrar lá.
Em resumo, a capital é de todos, não só de quem vive nela. Portanto, se houver pedágio na Capital, que seja um pedágio para todos. É o que ocorre em cidades como Londres, Estocolmo e Singapura: em determinados horários, em dias úteis, motoristas que acessam as regiões mais congestionadas pagam uma tarifa.
Acho justo – tanto para incentivar o uso do transporte coletivo quanto para financiá-lo. Outra hipótese seria a cobrança por rodízio: nos dias tais, placas que terminam com X ou Y pagam uma taxa. Quem não quiser encará-la, que vá de ônibus.
Tomara que seja maduro o debate desta quinta (30) e de sexta-feira (31) na Câmara de Vereadores. A própria discussão, neste caso, já é um mérito.