Inaugurado em 2013 como atração da recém-restaurada Praça Otávio Rocha – que fica no encontro da avenida de mesmo nome com a Rua Doutor Flores, no Centro Histórico –, o charmoso café situado ali virou um paredão de tijolo à vista.
A prefeitura garante que é provisório: o muro erguido na sexta-feira passada, segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams), foi a solução encontrada para impedir novos arrombamentos e depredações – algo frequente no local desde que o último permissionário deixou o café, quatro meses atrás.
Na verdade, ele foi expulso. A Smams diz que a permissão de uso do espaço já tinha sido revogada havia um ano e meio, por inadimplência. Como o permissionário recusava-se a sair da loja, conforme a secretaria, uma reintegração de posse foi cumprida em 26 de abril, com a presença da Guarda Municipal e da Brigada Militar. A partir daí, vândalos teriam quebrado as paredes de vidro e tacado fogo no pequeno prédio.
A Smams afirma estar "desenvolvendo edital com vistas a uma nova parceria para o local", mas não informou prazos. Enquanto isso, a opção pelo paredão de tijolos passa longe de ser consenso na prefeitura. Integrantes da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) acharam o muro horroroso: eles queriam ter sido consultados antes da intervenção, já que a Praça Otávio Rocha, inaugurada na década de 1930, é protegida como patrimônio do município. Entre especialistas ouvidos pela coluna, as opiniões se dividem.
– Realmente está feio, mas me parece aceitável por ser emergencial. É um local com sérios problemas de segurança pública, e botar tapumes ou portinhas seria insuficiente para coibir as depredações – avalia a arquiteta Debora Magalhães, professora da Ulbra que dirigiu a Epahc entre 2007 e 2016.
Já o presidente estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil, Rafael Passos, diz que o prédio "ficou parecendo uma sepultura malfeita":
– Está totalmente descaracterizado, e isso vai contra qualquer diretriz de proteção de patrimônio. Há painéis com chapas cimentícias, por exemplo, que teriam boa resistência e resolveriam o problema.
O negócio é torcer para o edital sair de uma vez.
Leia a nota com um breve histórico do café enviada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente:
Março de 2018: permissão de uso do Café Otávio Rocha é revogada por inadimplência. A dívida chega a quase R$ 500 mil, com parcelas em aberto desde 2014.
Maio de 2018: o permissionário foi notificado para desocupar o imóvel em 90 dias, o que não ocorreu, sendo necessário o ajuizamento de ação de reintegração de posse.
26/04/19: foi cumprida reintegração de posse de imóvel do Café Otávio Rocha. A ação foi acompanhada por procuradores da Procuradoria de Patrimônio e Domínio Público da PGM, servidores da Guarda Municipal, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAMS), Unidade de Gestão do Patrimônio Imobiliário da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão (SMPG) e Brigada Militar.
31/7/19: Café Otávio Rocha e arrombado e vandalizado. Smams faz Boletim de Ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia.
6/8/19: Café Otávio Rocha é alvo de incêndio e portas de vidro arrebentadas.
8/8/19: Local recebe limpeza extra pela SmSurb e DMLU, visto que a praça recebe manutenção de forma permanente.
9/8/19: SmSurb retira portas de vidro que restaram e guarda em depósito, a fim de evitar nova depredação.
23/8/19: A Smams finalizou o fechamento das portas do Café Otávio Rocha com tijolos, para tentar evitar novos arrombamentos.
Além da manutenção e cuidado permanentes com a área, a prefeitura está desenvolvendo edital, com vistas a uma nova parceria para o local.