Na semana em que completou 19 anos, o Anfiteatro Pôr do Sol recebeu mais de 30 mil pessoas no primeiro evento com cobrança de ingresso da sua história. A imagem de um espaço público cercado – eram 20 mil metros quadrados isolados por paredões de metal – surpreendeu quem circulava nos arredores da orla do Guaíba.
Só entrava no VillaMix, badalado festival de música sertaneja, quem pagasse por isso: as entradas para os shows de sábado (18) custavam entre R$ 60 e R$ 1,2 mil. Está certo isso? É razoável limitar o acesso a uma área pública somente aos que têm dinheiro? Há quem diga que não. Eu aqui, neste caso, não vejo problema algum.
Primeiro porque, sem espetáculos, o Anfiteatro Pôr do Sol não tem propósito. Não é uma área de passeio, onde as pessoas costumam caminhar, parar, sentar ou praticar esportes. Não é a mesma coisa, portanto, que cercar o Parcão para fazer um festival privado lá dentro – o que seria uma estupidez.
Vereadores de oposição têm repetido que o VillaMix é a primeira evidência da "privatização dos espaços públicos" que o governo Marchezan estaria promovendo. Não dá para dizer isso, especialmente porque eventos assim têm (e é correto que tenham) natureza excepcional: uma série de shows com entrada franca ocorreram no Pôr do Sol nos últimos meses, incluindo apresentações de músicos renomados, como Frejat e o americano Tom Morello.
Quando há um mínimo de prudência, a cobrança de ingresso em espaços públicos pode ser saudável. Aliás, é o que ocorre há anos no Parque de Exposições Assis Brasil, durante a Expointer. No caso do VillaMix, 2 mil pessoas trabalharam no evento, outros 300 trabalharam na montagem de estruturas e 5% da receita dos ingressos foi revertida ao município. Talvez o aluguel do espaço pudesse aumentar – a organização pagou R$ 61 mil à prefeitura, pouquíssimo.
Mas o principal é que centenas de pessoas vieram de outros Estados, gastaram dinheiro aqui e, provavelmente, gostaram do que viram. Entrar no mapa turístico e cultural do país não é um interesse privado.