Não, não é por falta de vagas: 50 crianças de zero a cinco anos estão sem creche há dois meses, no bairro Bom Jesus, porque a diretora da escolinha morreu.
Sem ninguém para substituí-la, a entidade que recebia dinheiro da prefeitura para administrar o local enviou, em 11 de janeiro, um ofício de três frases à Secretaria Municipal da Educação (Smed). “Não há interesse em manter o convênio”, avisou a Associação de Moradores da Antiga Vila Divineia, que declarou “extinto qualquer vínculo entre ambas as partes”.
Embora o convênio devesse se estender até o fim de março, o contrato não previa multa para quem o descumprisse. A Smed afirma estar em busca de uma nova instituição para administrar a escolinha Tia Beth, que está fechada – e abandonada – na Rua Vinte Sete.
– Agora eu deixo minha filha com vizinhos. É ruim porque, na creche, a gente sabe que ela está interagindo com outras crianças, aprendendo alguma coisa. Com os vizinhos, ela fica só deitada vendo TV – conta a empregada doméstica Samara Gonçalves dos Santos, 25 anos, mãe de uma menina de dois.
Para esclarecer: 75% das vagas que o município oferece nas creches, atualmente, vêm desses convênios – a prefeitura repassa os recursos e uma instituição faz toda a gestão da escolinha. Só nesses primeiros meses do ano, outras duas creches de Porto Alegre – uma na Restinga e uma no Rubem Berta – também fecharam as portas por problemas com entidades gestoras.
O Executivo, para romper os contratos, apontou alimentos vencidos, salas sem luz, falta de papel higiênico, descargas quebradas e professores sem formação. Segundo a Smed, as 60 crianças dessas duas escolinhas já foram transferidas para outras creches. Mas, em uma delas, a Anjos da Tinga, no bairro Restinga, há versões diferentes.
– Fui até a secretaria e ouvi deles que não havia vaga para o meu filho em outro lugar – diz Priscila Noronha, 26 anos, que largou um curso técnico para cuidar em casa do filho Ícaro, três anos.
Secretário municipal da Educação, Adriano Naves de Brito reconhece que, nesse modelo de escolas conveniadas, a prefeitura está suscetível a situações menos previsíveis:
– Mas estamos criando mecanismos para evitá-las. Muitas dessas escolas tinham origens na assistência social. Aos poucos, estamos subindo a régua para exigir que se tornem, de fato, escolas de Educação Infantil.