Depois que a coluna mostrou uma bicicleta da Yellow depenada no bairro Petrópolis – sem roda, sem guidom, sem banco e sem freio –, surgiram ontem novos relatos de ataques às bikes. Começava aí uma enxurrada de críticas à suposta falta de civilidade da população de Porto Alegre.
Mas não dá para ser tão duro. Embora os furtos sejam detestáveis, eles também ocorreram nos primeiros dias de operação em outras cidades, como São Paulo e Rio. O diferencial da Yellow é que as bikes não têm estação: o aplicativo mostra no celular onde estão as mais próximas – que são deixadas pelo usuário anterior em qualquer praça ou calçada.
Em nota enviada à coluna, a empresa lembrou que as bicicletas "foram desenvolvidas com peças exclusivas, que não se adaptam a outros modelos". Quer dizer: a tendência é de que, aos poucos, os ladrões deixem de furtá-las porque não haverá interessados em comprá-las.
Além de GPS em todas as bikes, a Yellow conta com o que chama de "time de guardiões" – uma equipe dedicada a avisar autoridades sobre qualquer movimentação suspeita. Com essa facilidade da polícia em identificar os vândalos, seguir depredando vira uma conduta suicida.
Alguém dirá, claro, que essa necessidade de fiscalização constante só reflete a índole questionável do brasileiro. Há controvérsias: a Yellow está chegando agora a outros países, portanto não divulga dados que comprovem essa teoria – que, vamos combinar, não tem muita consistência.
São muitos os indicadores que fazem do Brasil um país violento, mas caráter nunca esteve entre eles. O que parece motivar pequenos furtos como esses, no dia a dia de Porto Alegre, é uma chaga social tão evidente que nem nos comove mais tanto assim: a assustadora profusão de zumbis cuja vida é fumar crack.