Dois anos depois de assumir o mandato — e duas semanas após ter um pedido de impeachment rejeitado por míseros dois votos na Câmara Municipal —, o prefeito Marchezan não consegue estabelecer uma relação sequer cordial com os parlamentares.
A escorregada mais recente começou na terça-feira, quando seu secretário de Comunicação, Orestes de Andrade Jr., enviou à imprensa uma nota com o título "Executivo espera maior produtividade dos vereadores até dezembro". Marchezan, que estava na China quando o texto foi redigido, nem sabia o que se passava.
"A produção do Legislativo para o município foi muito pequena", denunciava o texto sem pôr nada na boca do prefeito. Se a intenção era preservá-lo, não adiantou nada: vereadores irritados foram à tribuna protestar, alguns com a já tradicional grosseria, chamando Marchezan de "moleque" e mandando-o "tomar Gardenal".
O secretário Orestes, na quarta-feira (17) à noite, soltou um novo comunicado, esclarecendo que o prefeito "não emitiu qualquer nota ou concedeu qualquer entrevista (...) cobrando maior produtividade da Câmara de Vereadores". Só que o remendo ficou difícil: toda nota oficial da prefeitura sempre será interpretada como a visão do prefeito.
É evidente que o governo, quando pede mais agilidade da Câmara, tem a honesta intenção de ver a cidade destravar. Mas a indignação dos vereadores não é absurda: eles atravessaram o ano discutindo justamente os projetos de Marchezan, que foram encaminhados ao Legislativo com regime de urgência — ou seja, nenhuma outra proposta podia ser votada na frente.
E o governo, como se viu, não tinha votos para aprovar quase nada. Quando os parlamentares topavam votar, a própria base aliada retirava o quórum e a discussão prosseguia. Resumindo: faltou é conversa. Faltou diálogo. Poderia começar com a prefeitura pedindo desculpas pela cobrança enviesada. E com os vereadores se desculpando pelas grosserias.