Entrei nesta terça-feira (5) no Ginásio da Brigada Militar – ou no que sobrou dele. Incrivelmente, embora esteja caindo aos pedaços, qualquer um pode entrar. Não precisei avisar ninguém: nem a Brigada, nem o governo, nem o guardinha da frente, porque não existe o guardinha da frente. O abandono é total.
Vestiários e banheiros, claro, viraram reduto de usuários de crack. Quando as crianças chegaram na terça de manhã à Escola Estadual Felipe de Oliveira, situada ao lado do ginásio, a impressão era de que um tornado havia revirado as salas: ladrões levaram brinquedos, televisão, notebook e aparelhos de som.
– Não sabemos se foi o pessoal que circula no ginásio, mas o fato é que agora, nesta quadra, só restamos nós e esse prédio abandonado. Meu carro foi arrombado às 10 da manhã aqui na frente. O carro de várias colegas também. Isso nunca tinha acontecido enquanto o ginásio funcionava – conta a diretora Leda Larratéa.
Mas não é um problema só daquela quadra: uma montanha de entulho em um dos cruzamentos mais movimentados da cidade é um desrespeito com a própria cidade. Faz seis meses que a prefeitura multou o governo do Estado, responsável pelo ginásio, exigindo que os escombros fossem ao menos isolados do público. Nem um tapumezinho apareceu.
O Conselho Regional de Engenharia (Crea) também notificou o governo, alertando para os riscos – pequenos, mas existentes – de um paredão desabar sobre o leito da rua. Quer dizer: o governo do Estado, além de desrespeitar uma ordem do governo municipal – o que é um desrespeito à cidade –, ainda obriga seus cidadãos a conviverem com a hipótese de um muro cair na sua testa. Pode haver desconsideração maior?
É verdade, uma empresa foi contratada em abril para demolir a parte mais comprometida da estrutura. Mas a Superintendência Regional do Trabalho suspendeu o serviço, alegando riscos aos trabalhadores e à população. Isso faz quase dois meses, e o ginásio segue lá, sem isolamento, aberto ao público, produzindo um dos cenários mais horrorosos de Porto Alegre.
Em contato com a coluna, o coronel Everton Oltramari, secretário adjunto da Segurança Pública, garantiu que pedirá reforço ao policiamento da região. Já o coronel Julio Cesar Rocha, comandante do Estado-Maior da Brigada Militar, disse que vem cobrando da empresa contratada a imediata regularização trabalhista para que a demolição seja retomada:
– Ainda não foi possível fazer o isolamento da área, mas queremos fazer o quanto antes.