Nesta quinta-feira (21), uma centena de funcionários de uma construtora de Porto Alegre deixaram para trás relatórios e telefones que não param de tocar e assumiram instrumentos de trabalho diferentes. Com pincéis, tintas coloridas, vassouras e lixas, trocaram os projetos pela pintura, limpeza e reparos em brinquedos, bancos e outros equipamentos da praça São Geraldo, no bairro de mesmo nome.
O ambiente reformado hoje vai receber os vizinhos do entorno da praça e terá frequentadores especiais: as 43 crianças da creche municipal Passarinho Dourado, que fica ao lado da área. A ação foi uma iniciativa dos funcionários da Melnick Even — 100 dos 500 colaboradores participaram. Presidente do comitê de sustentabilidade da empresa, Alberto Meneghetti diz que o projeto é uma forma de ampliar a atuação do grupo, formado há cinco anos.
— Quem se dispôs a vir hoje já tinha essa vontade dentro de si de ajudar, contribuir, mudar as coisas. Juntos, só achamos uma forma de colocar em prática. É uma realização enorme ver isso acontecendo — afirma.
A secretaria de Serviços Urbanos da Capital entrou como parceria. Nas últimas semanas, a grama alta foi cortada e as árvores receberam poda. Redes pluviais e esgoto do entorno do local receberam manutenção. Nesta quinta, o DMLU esteve na praça ajudando nas intervenções. Os voluntários fizeram marcações no solo das duas quadras poliesportivas e do campinho de futebol, que também receberam redes nas goleiras e na cesta de basquete. Faltava ainda dar cor aos brinquedos de uma das pracinhas. A outra, que pertence a escolinha, no centro da praça, estava interditada desde fevereiro.
Curiosos, moradores observavam os reparos através das grades da praça.
— Vou deixar uns biscoitinhos aqui para vocês — passa uma senhora anunciando sua forma de contribuir.
Outra moradora da região — há 40 anos —, Jane Varella conta que era prefeita na praça na gestão municipal passada. Ela diz que costumava organizar brechós no local, mas foi perdendo a motivação.
— Se a comunidade se envolve, a marginalidade se afasta. Infelizmente, a praça foi perdendo o brilho.
Do diretor da empresa ao mestre de obras, Alberto recebeu, em 10 dias, 80 e-mails de funcionários que queriam a colocar a mão na massa. Braço direito no comitê, Bruna Teixeira, 27 anos, trabalha como analista na Melnick e estuda Engenharia Civil, mas nesta quinta recebeu a missão de revitalizar os banquinhos da praça.
— A gente tem vontade de ajudar a mudar a cidade, mas sozinho é tão difícil. Em grupo, a gente consegue fazer mais. Quando eu passar por aqui, sempre vou lembrar que ajudei a deixar essas banquinhos amarelos mais bonitos — orgulha-se.
Diretor técnico da empresa, Rubem Piccoli, 55 anos, lixava as goleiras de uma das quadras da praça.
— Estou feliz que trabalho com tanta gente que se dispõe a fazer algo bonito assim. Fico orgulhoso, porque quem está aqui hoje, está feliz. Eu confesso que, além de estar contribuindo, também gostei de desligar o celular — brinca.
Realizada ao longo do dia, a ação reuniu os funcionários entre 7h30min e 16h desta quinta-feira. Quem ajudou no serviço da praça, recebeu dispensa no escritório — e cachorro quente de graça para o almoço. Diretora da creche no centro da praça, Denise Bueno Jardim, 46 anos, vê a ansiedade das crianças de voltar a ocupar os brinquedos.
— Eles queriam estar ajudando hoje, mas é complicado pois são pequenos. Já combinamos que eles vão produzir cartazes pedindo que a comunidade ajude a manter o lugar limpo e bem cuidado. Para nós, essa ação caiu do céu — diz Denise, que assumiu a escola há 11 meses.