Eram 7h50min de segunda-feira (14) quando, em um T6 lotado, Cleusa Maria Ferreira Machado desmaiou no fundo do veículo. Cobrador da linha de Porto Alegre há quatro anos, José Roberto Raach não teve dúvidas: correu para prestar socorro. Mesmo sem experiência na área da saúde, colocou a passageira em um banco e tentou mantê-la com a cabeça erguida. Outra passageira ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas teria ouvido do atendente que o serviço demoraria ao menos meia hora.
Com Cleusa inconsciente, não havia muito tempo para pensar. Ajudado por outros passageiros, José esvaziou o ônibus e comunicou ao motorista, Antônio Rogério Fogaça, que tocariam direto para o hospital. O parceiro da direção concordou. Partiram da Avenida Protásio Alves, na altura do cruzamento com a Carlos Gomes, até o Hospital de Clínicas. Lá, o cobrador entregou Cleusa à equipe de atendimento e voltou ao trabalho. Pelo telefone, foi informado de que o problema tinha como causa o estresse e que Cleusa já havia sido liberada.
Bancário por 24 anos e árbitro filiado à Federação Gaúcha de Futebol por 27, Raach se aposentou em 2012. Dois anos depois, buscou uma nova profissão. Aos 56 anos, acha errado ficar em casa. Na nova carreira, diz ter encontrado uma escola de vida.
— É muito fácil ver o mundo de um carro de luxo, no Moinhos de Vento. Aqui, a gente convive com pessoas que passam por necessidade, e isso nos faz refletir sobre o valor que damos para o que temos — diz.
Cheio de humildade, descarta o título de herói. Diz que agiu no instinto, com o coração, como sua mãe teria feito. De nada teria valido seu esforço sem a ajuda do colega ou dos cerca de cinco passageiros que ajudaram a carregar Cleusa até o Clínicas, ressalta. O motorista discorda. Parceiros há pouco mais de dois anos, afirma que, em 33 anos de Carris, nunca trabalhou com alguém como Raach.
— Nunca vi um funcionário dedicado como ele. Tenta ajudar todo mundo, é comunicativo, é uma pessoa especial — avalia Fogaça.
Nesta sexta (18), o reencontro. Moradora da Zona Norte, Cleusa embarcou em sua viagem diária rumo ao bar onde trabalha, na Protásio. Ao subir no ônibus, deu de cara com o cobrador. Um momento comemorado pelos dois.
— Ele não é enfermeiro, mas foi meu salvador. Vai saber o que podia ter acontecido se ele não tivesse me socorrido, carregado no colo e tudo. Agradeci muito a ele, e vou agradecer toda vez que nos virmos — anuncia Cleusa, já recuperada do susto.
Para Raach, o encontro foi um alívio:
— Depois de tudo aquilo, ver que ela estava bem, podendo trabalhar de novo... Só consegui comemorar.