Havia um recado importante naquele rastro de lixo e urina que cobria a Cidade Baixa na manhã desta terça-feira (13). Ninguém discute que faltou educação – isso falta sempre – às milhares de pessoas que promoveram um Carnaval informal no meio da rua, mas outra reflexão faz-se necessária aqui: não havia nada para fazer em Porto Alegre na noite de segunda-feira. Justo na véspera do feriado mais festivo do planeta.
Compare com o sábado. Tinha o que fazer, embora só houvesse uma opção. Um bloquinho divertido levou multidões à mesma Cidade Baixa e, como o evento era organizado, com estrutura montada e autoridades avisadas, lá estavam os banheiros químicos, lá estava a Brigada e lá estava a EPTC. Ocorreram excessos, claro: barulho, lixo, furtos. Mas nada comparado ao pandemônio desta madrugada.
Porque, em uma metrópole de 1,5 milhão de habitantes, se não houver nada para fazer no Carnaval, as pessoas mesmo assim farão algo – desorganizado, mas farão. E fizeram na segunda-feira, atravessando a madrugada e invadindo a manhã de terça sem polícia, sem banheiros, sem qualquer regra ou fiscalização.
É uma consequência da esterilização por que passa a cidade. Primeiro, tiraram o desfile das escolas de samba do centro de Porto Alegre. Agora, tiraram o desfile das escolas de samba do próprio Carnaval – a festa será no fim de março, no longínquo Porto Seco. Restaram, em 2018, entre sábado e terça-feira, dois míseros dias de bloquinho na rua. E também restaram turbas de jovens que não puderam fugir para o litoral ou para o Rio de Janeiro.
Com a derrocada dos carnavais de clubes e bairros – as novas gerações encontraram nas redes outras formas de se agrupar, não mais limitadas à proximidade geográfica –, o poder público tem obrigação de atender a essa demanda. Mas aposto que alguém vai perguntar, ali nos comentários:
– Sugere o quê? Que bote dinheiro público no Carnaval?
Não. Sugiro que a Secretaria Municipal da Cultura faça o seu trabalho. Que planeje com antecedência esses eventos, reconheça a importância deles e busque investidores, parceiros, patrocinadores para bancá-los. Não é difícil, sei que não é. Foi o que faltou também no Réveillon, quando a tradicional festa do Gasômetro sumiu do mapa – e, outra vez, não havia o que fazer na Capital.
Esta é uma boa fórmula para jogar a autoestima do porto-alegrense no mesmo lugar onde estava o lixo quando acabou a bagunça na Cidade Baixa: na sarjeta.