Quando parlamentares irritados contestaram seu apoio ao casamento gay, em julho de 2013, o então primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, respondeu assim:
– Defendo esta nova lei porque sou um conservador, e não apesar de ser um conservador.
Fazia sentido. No raciocínio de Cameron, ele estaria valorizando – e preservando – a tradicional instituição do casamento ao garantir seu acesso a um número maior de pessoas. Pode-se discordar desse argumento, mas Cameron tocou em um ponto fulcral sobre o que é ser conservador.
Não se trata de militar pela restrição de direitos ou pelo retorno a um passado mítico em que tudo era perfeito. Este é o reacionário. O conservador, não: o conservador aceita e simpatiza com os avanços sociais – mas, ao contrário do revolucionário, entende que as reformas devem vir com prudência. Por meio de ajustes, adaptações, reparos. Nunca com rupturas ou grandes convulsões. Sempre conservando, portanto, as instituições e a ordem social.
Um dos mais dedicados estudiosos do pensamento conservador no Brasil, o filósofo Eduardo Wolf — com quem conversei longamente para colher os subsídios deste texto — lembra que essa história começa no século 18, com o parlamentar britânico Edmund Burke, celebrado como pai do conservadorismo moderno. Burke era um reformador do partido liberal: defendia a independência dos Estados Unidos e opunha-se ao tráfico de escravos, mas surpreendeu colegas de partido ao criticar a Revolução Francesa, que recém começava.
Na avaliação dele, a visão de mundo do revolucionário – que acredita ter o direito, a partir de suas próprias convicções, de botar abaixo a ordem social vigente e construir uma nova – faz mal para a sociedade. Você pode aprimorar a ordem social, mas nunca destruí-la para depois inaugurar outra. Porque, segundo Burke, conservar o que foi conquistado pelas gerações passadas, sem abrir mão da mudança e da evolução, é a única forma de impedir que a sociedade se desintegre e acabe refém do terror – o que de fato aconteceu na Revolução Francesa.
Enquanto o reacionário quer restaurar uma ordem que já passou e o revolucionário pretende instaurar uma nova ordem, o conservador prefere avançar na ordem atual
Quer dizer: enquanto o reacionário quer restaurar uma ordem que já passou e o revolucionário pretende instaurar uma nova ordem, o conservador prefere avançar, aos poucos, dentro da ordem atual. Entre esses três, só o conservador respeita as regras democráticas. E a antítese do conservador não é o reacionário nem o revolucionário, é o progressista – que também aceita a democracia moderna, mas, grosso modo, entende que as reformas podem ser mais rápidas e que o Estado deve acelerar essas mudanças.
O conservador é a direita. O progressista, a esquerda. O reacionário, a extrema direita. E o revolucionário, a extrema esquerda. Na eleição para presidente, teremos candidatos desses quatro perfis. Não é difícil reconhecê-los, então deixo aqui minha única dica: prefira sempre os democratas.