Ao assumir outra vez uma postura de metralhadora giratória – atacando expressamente o PT, o PSOL, os sindicatos e o funcionalismo –, Nelson Marchezan esquece que é prefeito também dos petistas, dos socialistas, dos sindicalistas e dos servidores públicos.
Seu discurso agressivo funcionava bem quando era deputado, porque deputados representam uma fatia da população. São eleitos por um pedaço da sociedade, um segmento, um grupo com interesses (legítimos, aliás). Mas um prefeito representa todos.
Em sua inflamada participação no Congresso Nacional do MBL, em São Paulo, Marchezan afirmou que "parlamentar é cagão", sugeriu que líderes da esquerda gaúcha são "erva daninha" e criticou a atuação dos professores municipais.
– Toda vez que se vota "sim" com dinheiro público, está se votando "não" para alguém. (...) E, aqui entre nós, parlamentar é cagão! Tem 50 berrando (nas galerias), e ele diz que é a sociedade que está lá! – esbravejou o prefeito, para revolta dos vereadores de Porto Alegre, que na segunda-feira (20) encaminharam à presidência da Câmara um pedido de convocação de Marchezan para "prestar esclarecimentos".
Ao falar em "matar erva daninha pela raiz", o tucano mencionou Olívio Dutra, Tarso Genro, Luciana Genro, Manuela D'Ávila, Maria do Rosário e Henrique Fontana. Um tiro no pé que só atraiu mais ódio ao governo dele. Não pode o líder maior de uma cidade dedicar-se à desagregação em vez da união.
Porque um bom líder – empenhado em dialogar, negociar, agregar e construir consensos – contribui inclusive para uma sociedade menos instável, menos agitada, menos propensa aos conflitos sociais. Marchezan precisa lembrar que é, ou deveria ser, o prefeito de todos. Não pode transformar seu mandato em uma sucursal do MBL.