A tentativa de homicídio contra o vereador Rodrigo Maroni (PR), que teria sido perseguido por uma moto antes de ter seu carro alvejado por tiros, em maio do ano passado, não aconteceu. É o que concluiu a investigação conduzida pelo delegado Eibert Moreira Neto, da 4ª Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa. Maroni contesta o resultado do inquérito (leia, mais abaixo, o que diz o vereador).
– A história é completamente inverossímil. Há vários pontos que atentam contra a veracidade do fato – afirma o delegado Eibert.
A polícia teve acesso a câmeras de estabelecimentos comerciais na Estrada São Caetano, no bairro Lami, zona Sul da Capital, exatamente no local onde Maroni estaria sendo perseguido. A Doblò que o vereador dirigia aparece nas imagens. Mas a moto, não.
– É um local ermo, uma zona rural, e passam poucos carros por lá. As testemunhas que moram ali foram unânimes em dizer que não ouviram nem viram moto alguma. Viram só a Doblò e uma caminhonete.
Celular molhado e roupas limpas
A caminhonete era do chefe de gabinete de Rodrigo Maroni, um policial militar da reserva. Em seu depoimento, o vereador disse que telefonou para o chefe de gabinete após sofrer o atentado, mas o delegado Eibert vê nova contradição nessa informação:
– Primeiro, a vítima disse ter tentado telefonar para o 190 várias vezes. Não teria conseguido porque, ao fugir da suposta perseguição, teria se jogado em um mato com lodo, à beira da estrada, molhando seu celular. Mas, de forma inexplicável, ele conseguiu ligar para o chefe de gabinete, que foi até o local.
No inquérito, PMs que atenderam à ocorrência dizem que, ao chegarem à Estrada São Caetano, Maroni estava com as roupas limpas. Mas o vereador, segundo os policiais, logo atirou-se em um valão e passou a se debater para demonstrar como teria ocorrido sua fuga. Assim, ficou sujo. Conforme o delegado Eibert, chama a atenção que Maroni, em sua fuga pelo mato – um local com espinhos e arame farpado – não tenha se lesionado em nenhuma parte do corpo.
Vereador não será indiciado
Para completar, em seu depoimento, o vereador disse que estava a caminho da casa de uma pessoa para entregar-lhe um filhote de cachorro, que seria adotado. O pequeno cão, de fato, estava com Maroni, mas a pessoa não confirmou a versão à polícia.
– Ela disse que não tinha acerto algum para receber o cachorro – conta o delegado.
O suposto atentado ocorreu cinco dias após um homem matar um yorkshire com um chute, no bairro Santana, porque o cachorro teria urinado em frente ao seu prédio. Na época, Maroni liderou protestos contra o homem – cujo filho tinha uma moto – e passou a relatar à imprensa ameaças que estaria sofrendo.
O delegado Eibert disse que, embora tenha certeza de que não houve tentativa de homicídio, não vai indiciar o vereador por falsa comunicação de crime. Isso porque os disparos contra a Doblò realmente ocorreram, mas não foi possível identificar o autor dos tiros.
O que diz Rodrigo Maroni
Procurado pela coluna, o vereador Maroni disse o seguinte:
"Se não tivesse ocorrido um crime, isso estaria comprovado, eu seria indiciado por falsa comunicação de crime. Mas, se não conseguiram chegar ao autor dos disparos, isso é uma coisa que a polícia tem que fazer. Sofri um abalo pessoal muito grande, e ninguém contesta que o meu carro foi alvejado. Isso está comprovado.
Passei meses com segurança particular, até pessoas da polícia fizeram minha segurança. Tive que andar com colete à prova de balas, recebi inúmeras ameaças por muito tempo. Minha família teve que se mudar para o interior. Passei a tomar remédios para dormir, com medo de parar em sinaleira e de ficar sozinho em casa sozinho.
Identificar o que aconteceu é o trabalho da polícia. Se não houvesse um crime, não haveria os tiros. Se não houvesse um crime, não haveria o conjunto de ameaças que enfrentei. O que houve é que a polícia não conseguiu chegar ao autor. Se não conseguiram, não têm como dizer nada além disso. Vou continuar, na Justiça e na polícia, buscando formas de chegar ao autor desse fato. Foi o pior momento da minha vida."