Tenho gostado da briga entre os donos de bares da Padre Chagas. Uns querem fechar a rua na próxima sexta-feira para as comemorações de Saint Patrick's Day – tradicional festa irlandesa cada vez mais popular por aqui – e outros resistem à iniciativa devido aos problemas de sempre: barulho demais, excesso de gente, xixi nos muros, lixo no chão.
A briga me agrada porque, pela primeira vez, a ocupação de espaços públicos vira tema de debate fora do eixo Bom Fim-Centro-Cidade Baixa. Nesta segunda-feira, a associação de moradores Moinhos Vive se reunirá para discutir o assunto, e os donos de bares vão se encontrar novamente sob a mediação da prefeitura.
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Compreendo todos os argumentos contrários à festa, mas são inúteis. Ocupar as ruas é uma tendência mundial que se mostra eficiente no combate à insegurança e, principalmente, na conscientização das pessoas de que o espaço público não é de ninguém: é delas. Só que, claro, como essa cultura é incipiente por aqui, ainda nos faltam noções básicas de convívio e de etiqueta nesse tipo de evento.
Como se revolve isso? Com o tempo, mas também com campanhas pedindo respeito aos frequentadores, regras claras e estrutura adequada – o que parece ser uma preocupação dos organizadores, que prometem banheiros químicos na Padre Chagas e horário para começar (16h) e para terminar (21h30min).
Vetar a festa sob o argumento de que o lixo, o barulho ou o xixi a inviabilizam seria como resolver uma infestação de cupins tacando fogo na casa. É resolver um problema sem atacar o real problema. Ninguém está propondo que a Padre Chagas receba eventos como esse toda semana. Trata-se de um episódio. Uma vezinha só. Se bem que, cá entre nós, até poderia ocorrer mais vezes.