Ficou famoso um estudo do psicólogo Arthur Aron, que conseguiu fazer com que dois estranhos se apaixonassem em seu laboratório. Vinte anos após o início da pesquisa, Aron ainda recebe e-mails de pessoas que engataram relacionamentos e até se casaram após aplicar seu método, fácil de reproduzir por qualquer casal. Direi brevemente como funciona.
As duas pessoas sentam-se frente a frente, com um questionário de 36 perguntas – as questões estão neste link. Depois, cada participante lê uma pergunta, sempre em voz alta, mas os dois devem respondê-las. As primeiras são fáceis: "Para você, como seria um dia perfeito?" e "Se pudesse mudar algo em como foi educado, o que seria?". Aos poucos, o tom vai ficando mais denso: "Como você se sente em relação a sua mãe?", "Revele a seu companheiro alguma coisa de que já gosta nele", "Divida um problema pessoal e pergunte ao outro como ele o teria solucionado".
Em uma hora de conversa, a dupla já dividiu histórias sobre a última vez em que chorou e sobre o maior trauma da infância, estabelecendo uma intimidade que talvez levasse semanas para florescer. Eis o segredo do estudo de Aron: ele acelera o processo neuroquímico que estimula a paixão, liberando substâncias como adrenalina e dopamina, e aí vêm o frio na barriga, a palpitação apressada, o brilho nos olhos etc. Terminado o questionário, os dois devem se olhar nos olhos em silêncio durante quatro minutos.
Agora pense em alguém com quem você toparia fazer esse experimento. Pense nele – ou nela.
Certamente você não pensou em alguém com mau hálito ou que age como idiota, seja lá o que você considere agir como idiota. Ninguém aceita participar de uma experiência cujo objetivo é despertar um amor romântico se não estiver aberto ao que possa ocorrer. Porque, na verdade – e o estudo de Arthur Aron só reforça isso –, é você que escolhe por quem se apaixona. É você que estará frente a frente com alguém, consciente do que busca ali.
O mito de que "a gente não manda nas coisas do coração" foi uma das balelas que inventamos para ocupar o posto de vítimas, para acreditar que não somos donos do próprio destino nem das próprias escolhas. Não há sentimento que prospere contra a nossa vontade. As pessoas que escreveram para Arthur Aron, agradecendo por terem se apaixonado após conhecerem o questionário, só haviam realizado a experiência porque a aceitaram ou a sugeriram para alguém. E mesmo o casal de estranhos que se conheceu no laboratório do psicólogo sabia do objetivo da pesquisa.
O estudo apenas acelera o que duas pessoas já querem, abrevia para poucas horas a consolidação de uma afinidade, obriga o casal a se expor e derruba resistências comuns no início de uma relação. Agora, se você fizer o teste com um idiota e se apaixonar, a escolha foi sua. Não dá para esquecer que o sentimento mais valioso não é o amor – é o amor-próprio.