A vida do o engenheiro Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, 55 anos, é um eterno remexer na ferida emocional mais intensa que carrega: a morte do filho dele, Ronei Junior, 17 anos, massacrado por uma gangue juvenil em Charqueadas. O crime aconteceu 2015, quando o jovem saía da festa organizada para arrecadar fundos para a formatura do Ensino Médio da turma dele. Por estar acompanhado de um amigo que tinha inimizade com alguns rapazes, o adolescente foi espancado até a morte, com socos, pontapés e garrafadas. Tudo foi presenciado por seu pai, que também foi agredido.
Desde o fatídico dia da morte do filho, Ronei pai prestou pelo menos cinco depoimentos. Um na polícia, outro na fase de instrução do processo judicial e três durante os júris. É que o julgamento foi cindido em quatro partes. Está em andamento nesta semana a terceira e deve acontecer ainda um quarto julgamento, do último dos 10 acusados pelo assassinato.
O que chama a atenção de muita gente é que, ao realizar três júris, a Justiça fez com que Ronei mexesse na sua mais profunda dor, por três vezes. Foram três depoimentos no intervalo de um mês, detalhando como o filho foi espancado e morto a garrafadas.
Ronei recorda as últimas palavras que trocou com o filho. O rapaz perguntou a ele se estava bem. Ele mentiu, dizendo que tudo bem.
- Disse que sim. Mas como é que um pai vai estar bem vendo que o filho está dilacerado? Eu não estava bem, não estou, nunca mais vou estar bem - descreveu, nesse terceiro júri.
Pois a cada depoimento, Ronei revive a tragédia. Será que não haveria outra forma mais humana de relembrar aos jurados o episódio? Quem sabe uma gravação das várias outras vezes em que ele depôs? Teria igual força. Concordo que, fosse apenas uma leitura burocrática do depoimento, não comoveria da mesma forma. E júri é emoção, todos sabemos.
Essa exposição de Ronei a uma memória trágica é quase a antítese de quando a polícia não quer ouvir duas vezes uma vítima de determinado crime, para não revitimizar a pessoa, me lembra o colega Lúcio Charão.
Questionado, Ronei diz que considera falar sobre o caso uma missão. Relatar aos jurados que seu filho foi sentenciado e executado, sem direito a julgamento. Mas talvez fosse questão de bom senso alguém se preocupar com o pisar e repisar num trauma que é o pior pesadelo de qualquer pai e mãe. Um vídeo com reprise do depoimento pouparia familiares desse drama infinito e de ter de conviver na mesma sala com os assassinos do seu parente.