
O Brasil sempre teve um grande 10. O maior de todos, óbvio, o Rei. Mas também houve Rivellino, Zico, Rivaldo, Didi, Zizinho. Esse jogador, o meia que é centro do time, é também o símbolo do futebol brasileiro, do futebol cadenciado, tocado, pensado. Do jogo jogado.
Agora, o Brasil não tem esse jogador. Ninguém é capaz de pisar na bola e mudar o ritmo do jogo conforme a conveniência. Quem tem mais condições de exercer essa tarefa é Marcelo, mas ele corre pisando na linha lateral, longe do setor onde as coisas acontecem, onde as decisões estratégicas são tomadas.
Talvez Tite pudesse recuar ainda mais Casemiro para deixar que Marcelo se posicionasse na meia. Alguém precisa assumir a chefia técnica desse time. Alguém precisa ser o velho 10 do Brasil.
Neymar chorou de verdade
Claro que era melhor quando os jogadores calçavam chuteira preta, botavam a camisa para dentro do calção, cortavam o cabelo no barbeiro e não tinham dragão tatuado no braço. Claro que era melhor. Porque os jogadores pareciam menos vaidosos, mais gente como a gente. Só que os tempos mudaram, os jogadores não são mais apenas jogadores, são artistas. E ninguém mais vaidoso e mais artista do que Neymar. Ele é bobinho, exibido e, às vezes, arrogante. Irrita. Mas, ontem, aquele choro foi autêntico.
Todo mundo estava nervoso com o jogo, o Brasil passou o segundo tempo pressionando, tentando, chutando, entrando na área da Costa Rica, e o gol não saía. O goleiro Navas estava se consagrando, seria escolhido o melhor em campo, o Brasil se veria à beira da eliminação vergonhosa e Neymar, o vaidoso Neymar, teria gravado na testa um estigma mais visível do que qualquer uma de suas muitas tatuagens: o de culpado pelo fracasso do Brasil.
Neymar sabia disso. As redes sociais decerto já o haviam informado de que ele estava sentado no banco dos réus da opinião pública. Por esse motivo, desabou. O choro foi de alívio, de descarrego, foi o nó que lhe subiu da garganta e saiu por entre os olhos. Neymar não foi artista ao cair de joelhos. Nem foi vaidoso. Foi gente como a gente.
No que a Rússia é melhor do que o Brasil
São Petersburgo é uma cidade lindíssima, limpa e de aparência quase opulenta em seu centro, mas é evidente que há pobreza na periferia, como em quase todas as periferias de quase todas as grandes cidades do mundo. Li que pelo menos 10% da população continua vivendo de acordo com o arranjo feito pelos comunistas no começo do século passado. Que foi o seguinte: o governo tomou os apartamentos dos ricos e os dividiu entre quatro famílias pobres. A ideia era que as famílias, ainda que fossem completamente estranhas, convivessem sob o mesmo teto até que as moradias populares feitas pelo governo ficassem prontas.
De fato, muitas moradias populares foram construídas. Você pode ver, em torno da cidade, condomínios de prédios todos iguais. São dezenas, centenas deles. Mas os apartamentos dos ricos prosseguiram nesse esquema de compartilhamento entre famílias diferentes.
Imagine pessoas que não tinham nenhuma relação e que, de repente, cruzavam-se diariamente na cozinha, no banheiro, na área de serviço. Houve de tudo, devido a essa convivência forçada, de casamentos a agressões físicas. Hoje, esses apartamentos não são mais do Estado, são privados, e os espaços muitas vezes são vendidos como qualquer outra propriedade. Não é uma situação exatamente confortável, mas é comum na Rússia. Ou seja: há problemas na terra de Putin e Irina Shayk. Há pobreza. Há dor. Mas não é como no Brasil. Os canteiros de flores nas praças são respeitados, ninguém joga lixo nas ruas e quase não se veem prédios pichados. No Centro, as pessoas caminham falando ao celular sem nenhum receio e, ainda que seja tarde da noite, mulheres e homens podem passear sem ficar olhando para os lados, com medo de que um assaltante salte de trás de alguma sombra.
Segurança pública e educação. A grande diferença, em favor da Rússia, são a segurança pública e a educação.