Na primeira vez em que fui a Caracas, me assustei com um arraigado hábito local: as mulheres saem às ruas e são assediadas permanentemente. Se você pensar "aqui é assim", eu respondo "tu não tens ideia do que é aquilo". Certa vez, eu estava esperando na calçada para atravessar a rua, e uma morena bonita, ao meu lado, ouviu todo tipo de assobio e gracinha bagaceira. Eu olhei pra ela e perguntei se não ficava incomodada. Resposta dela: "Estou acostumada, eles estão me elogiando." Putz, perdi a pose e fiquei enojado, pensando na minha filhinha na época com três anos (era 2010). Há formas e formas de galantear de seduzir, de elogiar. Mas, bem, essa é uma longa conversa.
O fato é que adorei a decisão tomada pelo Legislativo portenho: a partir de agora, quem assediar mulheres nas ruas da cidade de Buenos Aires será punido com multa de até mil pesos (R$ 212).
Bem feito pros trogloditas!
A lei foi aprovada no dia 7 e compreende como assédio sexual os "comentários sexuais diretos ou indiretos ao corpo, fotografias e gravações de partes íntimas sem o consentimento, contato físico impróprio ou não consensual, perseguição, masturbação e exibicionismo".
Morei na Argentina e nunca percebi o que me chocou tanto na Venezuela. Mas há levantamentos segundo os quais algo como 97% das mulheres argentinas já passaram por assédio sexual na rua.
Os dados são do Primeiro Índice Nacional de Violência Machista, deste ano.
Na justificativa do projeto, consta que a ideia é preservar a "dignidade" e a "integridade" das mulheres.
Tô junto!
"Todos têm o direito de circular livremente e com a confiança de que não serão violados, e, independentemente do contexto, idade, hora do dia ou a vestimenta, os direitos humanos não dependem nem podem ser suspensos por detalhes do ambiente". Leia, releia e me diga: não é básico?