A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos traz para o agronegócio brasileiro mais oportunidades do que riscos caso o republicano coloque em prática o discurso protecionista. A razão é simples: os americanos são muito mais concorrentes do país do que clientes. Caso cumpra as ameaças de rever acordos comerciais, principalmente com a Ásia, a retaliação óbvia seria esses países redirecionarem compras de grãos e carnes para o Brasil, observam especialistas. Mesmo cético quando à possibilidade de Trump concretizar as ameaças, o consultor Carlos Cogo sustenta que, se os EUA abrirem conflitos com Europa, China ou México, o Brasil ganharia mercado.
– Se ele fizer essa lambança, nos beneficiamos – diz Cogo.
Como Trump teve grande votação nas regiões agrícolas, seria difícil esperar medidas que viessem a prejudicar o eleitorado. Uma possibilidade, entende Cogo, seria Trump elevar os subsídios aos agricultores americanos, mas aí já seria uma decisão que colidiria com as ideias do Partido Republicano.
O diretor da consultoria MB Agro José Carlos Hausknecht avalia que o Brasil tenderia a se beneficiar muito mais no setor de proteína animal do que no de soja, por exemplo, por ser uma commodity mais imune a barreiras. Se Trump levar a cabo suas ideias protecionistas, o risco mais iminente poderia ser relacionado à recente abertura do mercado americano para a carne brasileira. Mas o dano seria mínimo, avalia.
– A exportação de carne para os EUA é de pequenos volumes e vale mais como um selo, uma chancela – observa o especialista.
A Associação Brasileira de Proteína Animal lembra que um dos reflexos da eleição deve ser uma aproximação dos EUA com a Rússia, importante cliente de carnes do Brasil. Mesmo assim, entende que o país manterá o seu naco no mercado russo.
Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado, entende que, no curto prazo, a aversão ao risco gerada pela eleição pode levar o dólar a um repique e, dessa forma, ajudar a destravar a comercialização da soja brasileira. Olhando em um horizonte mais largo, entretanto, será necessário esperar para ver se Trump fará o que disse ou se serão apenas bravatas.
*Interino