Ciosa de suas excepcionalidades, a França celebra neste ano o centenário do semanário Le Canard Enchaîné ("O pato acorrentado"), jornal ao mesmo tempo satírico e investigativo, criado no longínquo 1916 (uma primeira tentativa ocorrera um ano antes, mas não sobreviveu a mais do que cinco edições, por causa da censura). Religiosamente nas bancas todas as quartas-feiras, a publicação se destaca por seu tom zombeteiro em relação às coisas da política, mas também por seus repetidos furos de reportagem e denúncias de escândalos no mundo do poder – como o conhecido caso dos diamantes oferecidos pelo ditador centro-africano Jean-Bedel Bokassa ao presidente francês Valéry Giscard d'Estaing nos anos 1970.
Em plena crise da imprensa escrita, o "Canard", ancorado no coração de Paris (no número 173 da Rua Saint-Honoré), é um óvni na mídia francesa e um raro caso no mundo, resistente à era da internet e até hoje sem uma versão online (o máximo que se permite é estampar a capa da edição em papel no Twitter). Em seu grande formato (36cm x 56cm), sem fotos, com austera diagramação praticamente inalterada desde sua fundação e vendido ao mesmo preço desde 1991 (1,20 euro), o secular jornal ostenta uma robusta saúde financeira sem recorrer a nenhuma publicidade, graças exclusivamente a seus quase 400 mil exemplares semanais impressos e a seus 70 mil assinantes.
Para marcar a efeméride, dois livros foram recentemente lançados no país. Canard Enchaîné, 100 anos é uma obra coletiva de 614 páginas, organizada por Laurent Martin e Bernard Comment (ed. Seuil). Já A incrível história do Canard Enchaîné é um álbum de história em quadrinhos de autoria da dupla Didier Convard e Pascal Magnat (ed. Les Arènes). Exceção francesa, o "Canard" se reivindica como um jornal vintage e, com sua fórmula "divertir informando", espera continuar seduzindo leitores para alcançar o bicentenário.
TÁXI AQUÁTICO
O futuro está próximo. No primeiro semestre de 2017, cinco protótipos de táxis "Sea Bubbles" serão testados publicamente no Rio Sena, em Paris. Trata-se de veículos volantes de propulsão elétrica, que flutuam sobre a água graças a finas asas. O táxi ecológico pretende provar sua eficácia e obter a licença para oferecer seus serviços a passageiros, com a ajuda de um aplicativo tipo Uber, e corridas de valor inferior a 10 euros.
ARTE ANSIOSA
A icônica pintura American gothic, do artista americano Grant Wood (1891-1942), uma das imagens mais citadas no mundo em infinitas versões, pode ser atualmente admirada em Paris. A obra integra a exposição A pintura americana dos anos 30: The age of anxiety, em cartaz no Museu de l'Orangerie, na Praça Concorde, até 30 de janeiro de 2017.
"A era da ansiedade", como diz o título, reflete a arte moderna americana dos anos 1930, pós-crash financeiro de 1929 e entre as duas guerras mundiais. A mostra reúne cerca de 50 telas de artistas como Edward Hopper, Georgia O'Keeffe ou Marsden Hartley, vindas de prestigiados museus americanos.
IMAGENS PARA VIAGEM
O turista que desembarcar no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, até a próxima terça-feira, ainda poderá deparar com uma amostragem inédita de 180 imagens em preto e branco da renomada fotógrafa de estrelas do cinema e da moda Dominique Isserman. As fotos são exibidas em 470 painéis publicitários de oito terminais, por meio de filmes de curtas sequências de 20 segundos. A ideia é promover a arte e a cultura locais em formatos originais no principal aeroporto da capital francesa.
TRÉGUA DE INVERNO
De 1° deste mês a 31 de março de 2017, vigora a chamada “trégua de inverno” na França. A medida, instaurada em 1956, proíbe execuções judiciais de expulsões de locatários dos imóveis alugados. Em 2015, as expulsões por meio das forças de segurança, no período permitido, registraram crescimento recorde de 24%, alcançando um número total de 14.363. Como causa primeira, está o aumento dos aluguéis e o não pagamento por parte dos moradores.