Com as mãos amarradas há um ano, quando as unidades da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) foram penhoradas, a direção da autarquia espera fechar nas próximas semanas acordo na Justiça do Trabalho para, então, avançar no propósito de enxugamento da autarquia. Assim que desbloquear o patrimônio, a ideia é desfazer-se inicialmente das estruturas desativadas e, depois, das deficitárias.
– Não há sentido manter unidades que não dão resultado, apenas prejuízo. Até agora não conseguimos fazer nada por conta dessa questão judicial – explica Carlos Kerchner, presidente da Cesa.
Em fevereiro deste ano, a Assembleia Legislativa aprovou projeto que liberou a venda ou arrendamento das unidades da companhia sem necessidade plebiscito. A medida passou com facilidade no plenário, já que a privatização da autarquia sofre pouca resistência.
As ações trabalhistas referem-se à cobrança de dívidas pelo não pagamento do piso da categoria desde os anos 2000. Em valores atualizados, o passivo chega a R$ 270 milhões, conforme a Cesa. Na última reunião com a categoria, na semana passada, a autarquia ofereceu quitar 40% do valor em seis anos. Os funcionários aceitaram a proposta, desde que seja acrescido 6% ao ano do saldo devedor. A ação envolve 261 funcionários, entre ativos e inativos.
– Esse valor não cobre nem o valor da época. Estamos dispostos a aceitar mesmo assim para tentar salvar a empresa. Criamos nossos filhos na Cesa, não queremos levá-la à falência – diz Lourival Pereira, presidente do Sindicato dos Auxiliares de Administração de Armazéns Gerais (Sagers).
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Após fechar o acordo judicial, a Cesa pretende colocar à venda as unidades desativadas em Passo Fundo, Nova Prata, Estação e Santa Bárbara do Sul. A intenção é fazer o mesmo com as estruturas abertas, porém deficitárias, em São Gabriel, Bagé, Cachoeira do Sul e Palmeira das Missões.
– Essas unidades têm estruturas antigas, o que as deixa pouco atrativas no mercado – reconhece o presidente da estatal, que acumula dívidas de R$ 400 milhões.
Por enquanto, a intenção é manter os negócios que ainda dão retorno financeiro, principalmente o terminal de Rio Grande. Para tentar reduzir a ociosidade das outras sete unidades, superior a 60% hoje, a estatal anunciou nesta semana desconto de até 40% na tarifa de armazenagem das safras de trigo e de milho.
O primeiro acordo foi fechado ontem com a Coopatrigo, de São Luiz Gonzaga, que irá usar os armazéns da companhia para guardar o excedente da produção de trigo.
– Queremos devolver a Cesa aos produtores, sendo uma opção atrativa para quem não quiser vender a safra imediatamente – destaca Lúcio do Prado, diretor técnico e comercial da companhia.