Houve a pedra no caminho, com o referendo de voto facultativo em que a oposição de direita se mobilizou, e só um terço do eleitorado votou (as pesquisas mostraram entre 55% e 65% a favor do "sim" caso todos votassem). Houve o prêmio nobel da paz para o presidente Juan Manuel Santos, um símbolo a revigorar o político em tese derrotado na consulta popular. Houve as manifestações de que as negociações continuam rumo a um acordo que contemple mais vozes - incluindo as da oposição de direita. Enfim, a paz na Colômbia passou por alguns empecilhos, mas continua firme e deve ser referendada pela população em cima de um conteúdo mais inclusivo de todos os setores. Pois bem, houve tudo isso, e ontem à noite veio a boa nova: o governo colombiano e a guerrilha do ELN iniciarão negociações de paz no próximo 27 de outubro, em Quito, para pôr fim a um conflito armado de mais de meio século.
"As delegações do governo nacional e do ELN acertaram instalar no dia 27 de outubro, em Quito, Equador, a mesa pública de conversações", diz a declaração.
Antes do início da etapa de negociações, o Exército de Libertação Nacional (ELN) - segunda guerrilha colombiana depois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - se comprometeu a libertar dois reféns.
"Além disso, cada uma das partes fará, a partir da data, outras ações e dinâmicas humanitárias para criar um ambiente favorável à paz", acrescentou o comunicado assinado por quatro delegados do governo e cinco do ELN.
Em Bogotá, o presidente colombiano disse que, com a instalação de negociações entre o governo e o ELN, a paz no país "será completa".
- Estamos buscando há cerca de três anos uma negociação com a guerrilha do ELN para encerrar também o conflito armado com eles. Agora que avançamos com o ELN, será completa. Será uma paz completa! - afirmou o presidente em declaração à TV da Casa de Nariño, sede do Executivo.
Horas antes do anúncio das negociações, o ELN entregou ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) um homem identificado como Nelson Alarcón, que mantinha sequestrado há três meses. A liberação ocorreu em uma zona rural de Fortul, no departamento de Arauca, fronteira com a Venezuela.
Foi o terceiro civil libertado pelo ELN nas últimas duas semanas.
Em relação aos opositores do acordo de paz com as Farc, Juan Manuel Santos fez um apelo "para que este diálogo seja frutífero" e destacou três pontos. "Primeiro, que não se apresentem propostas impossíveis. Segundo, que nos ajudem a avançar com sentido de urgência, sem dilações. Terceiro, o diálogo deve se estabelecer partindo de duas bases fundamentais: realismo e verdade".
É importante que se diga: com a incorporação do ELN e a abertura de conversas com a oposição de direita, a mesa de negociações se amplia. E isso é ótimo!
A mesa de negociações para a pacificação colombiana vai ganhando características de um grande acordo nacional! E se reforça muito.
Representantes do governo e da oposição partidária do "não" ao acordo com as Farc, liderados principalmente pelo ex-presidente Álvaro Uribe, prosseguem conversando para obter consensos e superar um conflito armado de 52 anos.
- As propostas surgidas desse diálogo serão analisadas e discutidas entre o governo nacional e as Farc - disse Santos, classificando o diálogo entre governo e oposição como "uma grande oportunidade para se obter uma paz estável, duradoura, mas ampla e mais profunda" (a famosa limonada do limão...).
O presidente enfatizou que, nas reuniões com a oposição, "foi possível constatar que há temas e objeções onde no lugar das divergências existem apenas mal-entendidos". Ou seja, temas que podem ser superados.
- Podemos esclarecer muitos destes pontos, mas temos consciência de que é preciso trabalhar com urgência, com rapidez, porque o maior inimigo que temos agora é o tempo - disse o presidente colombiano.
Santos lembrou o "compromisso" do governo e das Farc em manter o cessar-fogo vigente desde o dia 29 de agosto, obtido durante as negociações de paz.
- Desde esse dia (29 de agosto), não houve uma só morte, um só ferido, um só ataque por conta do conflito com as Farc. Temos que mantê-lo - afirmou.
OEA pede, para breve, acordo ancorado em grande diálogo nacional
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, fez um apelo à classe política colombiana e à guerrilha das Farc para que consigam em breve um novo acordo de paz "inclusivo e definitivo", após a rejeição nas urnas. "Saudamos a vontade indeclinável de todos os atores envolvidos para encontrar uma saída viável para esta situação pós-plebiscito", declarou Almagro em um comunicado. "Do mesmo modo, nós os convidamos a concluir, o mais rápido possível, um acordo inclusivo e definitivo que ponha fim ao conflito armado", completou, reiterando que o Nobel da Paz outorgado a Juan Manuel Santos "deve ser o melhor impulsionador" para esse caminho.
Conforme Almagro, o resultado da votação deve ser respeitado e "abre as portas para um processo de paz ancorado em um grande diálogo nacional".
Ele também saudou as manifestações do governo, da oposição e das Farc de insistirem em suas intenções de buscar a paz, após o plebiscito.
"Esse acertado caminho de conciliação promovido pelo governo, do qual a oposição participa e que conta com a boa vontade explícita das Farc, é essencial em toda democracia para resolver as diferenças internas", afirmou Almagro, que reiterou: a OEA continuará a assistência à Colômbia no período pós-conflito. Desde 2004, a organização dirige uma Missão de Apoio ao Processo de Paz.