Vejam só. É o velho mundão onde um suspiro aqui chega lá. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse, para a agência de notícias AFP, que a candidata democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, Hillary Clinton, "oferece mais garantias" para a paz do país sul-americano que seu concorrente, o republicano Donald Trump. O presidente, que alcançou um pacto histórico com a guerrilha das Farc para terminar com meio século de conflito armado, acha que as políticas de Trump "não estão muito em conformidade com o que a Colômbia quer". Destacou o apoio de Hillary e de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, à paz por meio do Plano Colômbia, estratégia contra o narcotráfico ampliada depois à luta antiguerrilha, que enviou, em 15 anos, US$ 10 bilhões em fundos americanos ao país sul-americano.
- Quem é o candidato presidencial americano que pode ajudar mais a implementar a paz? - foi a pergunta da AFP.
- Pela minha experiência, tanto Bill Clinton quanto Hillary foram grandes aliados da Colômbia. Foi Clinton que iniciou o Plano Colômbia, que foi muito útil para alcançar o que alcançamos. Hillary também apoiou muito essas negociações quando trabalhou como secretária de Estado. Conheço os dois, e os dois são muito amigos da Colômbia. Não conheço Trump e as políticas de Trump não estão muito em conformidade com o que a Colômbia quer dos Estados Unidos, e com o que a Colômbia quis do mundo inteiro: livre comércio, políticas de imigração que sejam convenientes para todos os países. Nesse sentido, pelo que conheço, a candidata Hillary Clinton oferece mais garantias.
A candidata democrata, de 68 anos, mantém vantagem nas pesquisas sobre Trump, de 70, na corrida pela Casa Branca.
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Santos está "absolutamente convencido" de que vencerá o plebiscito de 2 de outubro, no qual convocou os cidadãos a se pronunciar sobre o acordo de paz. Descarta uma surpreendente vitória da oposição como ocorreu no Brexit, que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 23 de junho. Diz o presidente colombiano:
- Estou certo de que os colombianos estão começando a ver o que realmente foi negociado e estão dizendo: "Isso eu compro". Houve tanta desinformação nestes últimos quatro anos que há muitos colombianos confusos. Mas você está vendo as últimas pesquisas e os colombianos se inclinam cada vez mais em direção à aprovação, em direção ao "Sim", em vez do "Não".
E continua:
- Os colombianos estão muito chateados com a violência, com a guerra. Demoramos três gerações. Alguém disse que perdemos inclusive a compaixão, a capacidade de sentir a dor alheia. E isso, em certa medida, é verdade. Por isso vão dizer que, embora seja uma paz imperfeita, cumpre com todos os requisitos mínimos, os padrões internacionais, os nacionais, e vamos aprová-lo. Se o "Não" vencer, voltamos ao que tínhamos há seis anos, quando começamos.
Santos considera o referendo a forma de tornar o acordo ainda mais legítimo:
- O "Sim" vai ganhar. Tenha total certeza disso, estou convencido. Estou absolutamente convencido. E não assumiria um risco como esse, porque não sou obrigado a assumir este risco. Eu poderia ter negociado isso sem referendar, mas referendar é algo democrático, legitima muito mais um acordo desta natureza. Por isso insisti muito no referendo.
E acrescenta:
- A implementação depende do referendo. O ato legislativo que o Congresso aprovou, que estabelece procedimentos para a implementação, diz especificamente que tudo dispara, começa, quando os acordos forem confirmados mediante o referendo.
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Desde que o governo da Colômbia e as Farc começaram a negociar para encerrar o conflito armado, muitos especulam sobre a possibilidade de que os coordenadores de um eventual acordo recebam o Prêmio Nobel da Paz. Santos nega ter iniciado o árduo processo de negociação tendo prêmio como meta.
- Eu nunca trabalhei pela paz por prêmios. Para mim o verdadeiro prêmio será quando o plebiscito for vencido e quando vermos o início da reconciliação dos colombianos. Se eu quisesse os aplausos da opinião pública não teria entrado no processo de paz. Tem sido muito caro, politicamente. Eu acredito na liderança que faz o correto e não o que é popular. Os prêmios são totalmente secundários. Não busco aplausos. Quero fazer o correto.
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Santos diz que gostaria de ver na prisão os guerrilheiros responsáveis por "crimes atrozes", mas está "100%" convencido de que "sempre é melhor uma paz imperfeita que uma guerra perfeita". Como assim?
- A paz perfeita não existe, porque a paz perfeita implica a justiça perfeita e a justiça perfeita torna impossível a paz. É uma paz imperfeita, mas sempre, sempre é melhor uma paz imperfeita que uma guerra perfeita.