Mais um passo neste momento histórico vivido pela Colômbia: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram há pouco que aprovam o acordo de paz a que chegaram as equipes negociadoras do governo colombiano e da guerrilha no último mês, em Havana.
E foi por unanimidade!
Na próxima segunda-feira, com as presenças do líder das Farc Rodrigo "Timochenko" Londoño, do presidente Juan Manuel Santos, de líderes da região (Michel Temer não está entre eles...), do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o rei da Espanha, entre outros, será assinado o acordo de paz.
No domingo seguinte, dia 2 de outubro, os colombianos irão às urnas em plebiscito para decidir se o acordo deve ou não ser implementado. Todas as pesquisas indicam a vitória do "Sim".
Desde o último sábado as Farc estavam reunidas em um acampamento nos Llanos del Yarí, próximo a San Vicente del Caguan. Debateu os pontos do acordo e foram realizadas rodadas de esclarecimentos sobre, por exemplo, como será a remoção dos agora ex-guerrilheiros para as 20 "zonas de segurança" espalhadas pelo país, assim como a entrega das armas e outras medidas práticas.
As Farc enfatizam: não houve vencedores ou vencidos. A Colômbia venceu!
A partir desta semana, o presidente Juan Manuel Santos e o líder-máximo da guerrilha das Farc, "Timochenko", entrarão para a história pela determinação em alcançar a paz na Colômbia após meio século de confrontos. Para ambos, as declarações sempre foram de que "a paz é possível".
"Toda a minha vida, desde quando minha mãe me entregou há quase 50 anos um fuzil que representava as armas da República, como segue sendo o costume ao ingressar na Armada Nacional, fui um implacável adversário das Farc", disse Santos, que como ministro da Defesa (2006-2009) comandou uma feroz luta contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunistas).
"Mas (...) agora que acertamos a paz (...) defenderei, com igual determinação, seu direito de expressão e que sigam sua luta política por vias legais, mesmo que não estejamos de acordo", acrescentou este ferrenho defensor da pacificação do país desde que foi eleito presidente em 2010 e reeleito em 2014.
Mauricio Rodríguez, cunhado de Santos e um de seus assessores mais próximos, resumiu em uma frase a convicção do mandatário, de 64 anos, pela paz: "Fez da guerra um meio para alcançá-la".
Esse mesmo empenho tem Rodrigo Londoño, mais conhecido por seus nomes de guerra Timoleón Jiménez ou "Timochenko", líder das Farc desde 2011, tornando-se o terceiro comandante dessa guerrilha surgida em 1964 de uma insurreição camponesa.
"O acordo final nos permitirá, por fim, retomar o exercício político legal mediante a via pacífica e democrática", disse.
Planejar isso em 1964 "era absurdo para os poderes e partidos dominantes da época, que decidiram apelar à força e ao extermínio com a convicção de que com bombas e fuzis poderiam calar os clamores populares", acrescentou.
"Timochenko" é "um dos caras mais queridos nas Farc" por sua estreita relação com o falecido líder histórico Manuel Marulanda ("Tirofijo"), disse à agência de notícias AFP o analista Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação.
"É o homem que marcará a história por levar as Farc a um processo de paz", acrescentou, sobre o guerrilheiro de 57 anos.
Dois perfis diferentes, mas um destino comum
Santos nasceu em uma família da elite - seu tio-avô foi chefe de Estado e dono do influente jornal El Tiempo. É um liberal formado na London School of Economics e ocupou diversos cargos públicos em sua carreira política. Timochenko, de origem oposta e nascido na zona cafeeira da Colômbia, muito próxima da região natal de "Tirofijo", é de orientação marxista e frequentou cursos de medicina na extinta União Soviética e em Cuba, mas não se formou. Protagonizou uma carreira meteórica nas Farc, chegando a ser parte de seu Secretariado - a cúpula rebelde de sete comandantes - com apenas 26 anos.
No entanto, as metas destes dois homens convergiram em uma só no início de 2012. Após poucas semanas de assumir o comando das Farc, Timochenko escreveu uma carta a Santos propondo "uma hipotética mesa de conversações, de frente para o país", em uma tentativa de retomar o último fracassado processo de paz com o governo de Andrés Pastrana, entre 1999 e 2002.
Dias depois, o chefe-máximo das Farc - que acumula condenações de mais de 150 anos por todo tipo de crime em sua luta revolucionária - se comprometeu a parar com o sequestro de civis com o objetivo de extorsão, contemplando uma das mais insistentes demandas do chefe de Estado.
Santos reconheceu, então, que a guerrilha havia dado um passo até o estabelecimento de um diálogo. As aproximações se intensificaram e confluíram na preparação de uma mesa de diálogos em novembro de 2012, em Havana, onde foi dado o histórico passo até a paz definitiva, que está se concretizando.