Dentre outras capacitações próprias desta linda profissão que é o jornalismo, uma delas, além do bom texto e das demais questões éticas e técnicas, é o distanciamento. Você pode ser apaixonado por um clube de futebol e até assumir esse sentimento, mas deve olhar com lucidez a ele e a seus rivais. Você certamente tem preferências políticas, mas seria erro primário deixar isso limitar o seu campo de visão a ponto de partidarizá-lo. E você talvez viva desde sempre em uma cidade, o que não impede o belo exercício de tentar vê-la como forasteiro. Dito isso, fica o convite: passeemos juntos pela Porto Alegre onde este articulista nasceu e vive há meio século, com uma breve interrupção portenha por motivos profissionais. Conhecer cada esquina pode trazer bons ou maus sentimentos, boas ou más recordações. O ideal, claro, é que preponderem as lembranças felizes, os cheiros familiares, a sensação de acolhimento. Mas façamos de conta que nada disso existe. Certo?
Partindo aqui do prédio de Zero Hora, façamos uma incursão pela zona sul, passeemos pela orla do Guaíba, pelo Iberê e pelo Beira-Rio. Voltemos cortando pelas ruelas arborizadas do Menino Deus. Sigamos para o Centro, sem nos esquecermos dos casarios da Cidade Baixa. Andemos pelo viaduto Otávio Rocha, com suas luzes amareladas e arquitetura suntuosa. No Centro, as surpresas se sucedem a cada dezena de metros. O Gasômetro, a Catedral, as casas de espetáculo, os museus, o prédio da CEEE, o Piratini, o Theatro São Pedro, as casas antigas da Riachuelo e de outras ruas tão charmosas quanto ela, o Correio do Povo, a Prefeitura, o Mercado Público, as elevadas que dão no norte, as faculdades da UFRGS de um lado, com a Redenção as adornando, de outro lado a saída para paragens distantes e, no caminho, ah, a minha Arena, luzindo no começo da Rodovia do Parque.
Perceberam a quantidade de belezuras? Você dirá que faltou algo nesse passeio. O charme do Bom Fim? O Moinhos de Vento, em bairro ou em parque? Os prédios da Independência e da Mostardeiro, novos e antigos se intercalando? A Carlos Gomes? As praças? O Jardim Europa? Os shoppings, por que não? Essa fartura só reforça minha constatação. A de que Porto Alegre é linda! Abra os olhos e a enxergue como estrangeiro. E, se você não é mesmo um estrangeiro, exija do futuro prefeito, seja qual for, que a trate com carinho.