A previsão era de que finalmente a paz colombiana teria sido assinada em 20 de julho, dia da independência do país. Não ocorreu. Mas os avanços continuam, e a previsão é de que a data histórica é iminente. A Colômbia se prepara para acolher os ex-guerrilheiros como integrantes da vida institucional. No último dia 13, o presidente Juan Manual Santos deu início ao novo ano legislativo e anunciou, em tom grave e solene:
– Chegou a hora de completar nossa missão. Este Congresso da paz será agora o Congresso do pós-conflito.
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Caberá ao Legislativo analisar 44 projetos destinados a implementar acordos alcançados em Havana nas negociações que se desenrolam desde 2012, sob observação de Chile, Cuba, Venezuela e Noruega – o primeiro encontro foi em Oslo. No mesmo discurso, Santos disse que "a Colômbia finalmente chega ao século 21 com orgulho por ter superado uma tragédia que durou mais de meio século".
Especialista em conflitos, o cientista político colombiano Marcos Peckel projeta um desfecho para breve e imagina os ex-guerrilheiros unidos em um partido que derivaria do movimento de esquerda Marcha Patriótica.
– Depois do cessar-fogo definitivo, já pactuado, a contagem é regressiva. Haverá uma série de etapas. Na medida em que confessem e em que as vítimas sejam reparadas de alguma forma, um tribunal especial determinará penas alternativas para os crimes que não podem ser anistiados. Tudo isso será determinado no anúncio do acordo, que depois deverá ser homologado por um plebiscito – explica Peckel.
A tarefa de conquistar a confiança da sociedade
Os colombianos votarão "sim" ou "não" aos acordos de paz. As negociações tiveram início em novembro de 2012. Em 23 de junho deste ano, foram definidas e festejadas as condições do cessar-fogo definitivo e da entrega de armas dos rebeldes, que entrarão em vigor assim que o acordo final for assinado. A vitória do "sim" na consulta popular, na qual a participação é facultativa, terá o poder de dar "caráter vinculante para o desenvolvimento constitucional e legal" do acordo de paz. Ou seja, legitima-a. A aprovação da paz ocorrerá se o "sim", além de conquistar mais da metade dos votos no plebiscito, superar a marca de 13% dos colombianos.
Pelas ruas de cidades como Bogotá, milhares de pessoas se reuniram em praças públicas para comemorar o plebiscito aprovado no dia 18. María Fernanda Carrascal, fundadora da ONG Ideias para Bogotá, juntou-se a "jovens de diferentes tendências políticas e ideológicas" e criou o movimento Pela Colômbia, sim.
– Vamos distribuir coroas de flores nas praças. Respaldamos o plebiscito e queremos paz. Nosso lema é "Guerra, descanse em paz". A paz é a solução – diz María Fernanda, também conhecida como Mafe.
A importância do plebiscito é o respaldo popular que dá a um evento histórico que guarda polêmicas. Em especial, dirigentes políticos de direita, como o ex-presidente Álvaro Uribe, contestam a solução acordada. Acreditam que a guerrilha deve ser derrotada pela via militar e resistem à ideia de que alguns dos hoje guerrilheiros passem a se integrar à vida política institucional, como ocorreu na Espanha e na Irlanda.
O senador Antonio Navarro Wolff avalia que a resistência de alguns setores à concretização da paz "será permanente", mas já antevê ex-guerrilheiros discursando "com ganas" a cada esquina.
Detalhe relevante: o próprio Wolff é um ex-líder guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19) e, por isso, sabe o que fala.
– O mais importante é que o processo tem o apoio da sociedade colombiana, mesmo de quem não votará nos candidatos que hoje são guerrilheiros. O essencial é que haja espaço para todas as correntes de pensamento e que tenhamos paz. Os guerrilheiros terão de se acostumar à rejeição política e precisarão trabalhar para conquistar a confiança das pessoas. Em primeiro lugar, terão de cumprir a palavra e realmente suspender todas as ações que atingiam a população civil – diz Wolff.