São péssimas as notícias mais recentes para o presidente venezuelano, Nicolas Maduro. Certamente, nada que o surpreenda. Mas, ainda assim, péssimas.
Para começar, Maduro perderia de forma esmagadora um referendo revogatório, com 64% dos eleitores a favor de sua destituição, de acordo com pesquisa realizada pela empresa Venebarómetro. O levantamento, que consultou 1,2 mil pessoas entre 11 e 22 de junho, indica que apenas 29,3% dos eleitores apoiaria a permanência de Maduro no poder. De setembro de 2015 a junho deste ano, os eleitores favoráveis a revogar o mandato do presidente variaram entre 59% e 70%, conforme a pesquisa. Entre aqueles que apoiam Maduro, os percentuais variaram entre 17,3% e 29,3% no mesmo período. Em meio à crise sócio-econômica que atinge o país, a Venebarómetro também estabeleceu que a gestão do presidente socialista é negativamente avaliada por 73,4% dos entrevistados. Desde o início do governo de Maduro, em abril de 2013, os entrevistados consideraram a situação atual do país a pior.
Além disso, os venezuelanos consideram que os seus três principais problemas são a falta de alimentos, medicamentos e produtos básicos com 75,5%; insegurança (70,7%) e o elevado custo de vida (44,4%). Quase um terço dos entrevistados (32,6%) acreditam que Maduro é o principal responsável pelos problemas do país, enquanto 29% atribuíram a culpa ao governo como um todo.
O revogatório é conduzido pela oposição, que espera para amanhã o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre a validação das 200 mil assinaturas para ativar o processo. Se validados, a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) deverá recolher 4 milhões de assinaturas (20% do eleitorado) para convocar o referendo. A pesquisa tem uma margem de erro de 2,37%.
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O referendo revogatório ocorre na metade do mandato de seis anos. Ou seja, a partir do terceiro ano de mandato. E a situação é seguinte: se a consulta for realizada até 10 de janeiro, será marcada nova eleição. Sendo depois dessa data (que é considerado o marco inicial do quarto ano de governo), o novo presidente será o vice de Maduro. E aí mora o detalhe perverso: na Venezuela, o presidente pode escolher o vice a qualquer momento, como um ministro. O vice não é eleito junto. Ou seja, Maduro poderá escolher o futuro presidente. E mais: caso o fracionamento oposicionista permita, Maduro tentará emplacar sua própria mulher, a procuradora Cilia Flores, como presidente.
Hmmm... aqui vem outra má notícia para Maduro...
Os dois sobrinhos da primeira-dama da Venezuela presos no final de 2015 por tentar entrar nos Estados Unidos com 800 kg de cocaína admitiram sua culpa ante a agência antidrogas americana, conforme documentos oficiais. Os detalhes da confissão de Efrain Antonio Campo Flores e Francisco Flores de Freita fazem parte de um expediente enviado pela procuradoria-geral a uma corte de Manhattan, Nova York. Os dois acusados são filhos de irmãos de Cilia Flores e foram presos no Haiti em novembro de 2015, sendo depois levados para Nova York por agentes da DEA, a Agência para o Controle de Drogas (DEA). Também são acusados de tentar introduzir drogas em território americano via Honduras.
O governo venezuelano se mantém em silêncio a respeito. Cilia Flores disse em fevereiro que "vai esperar que a Justiça fale e depois teremos muito o que falar".
Há muito o que se falar sobre a Venezuela nestes tempos difíceis, mesmo.