Quem acompanha a atualidade francesa tem visto os incessantes protestos contra a nova legislação trabalhista do país. Uma passeata faz parte do cotidiano do parisiense assim como a Torre Eiffel no horizonte e a baguete matinal na padaria da esquina. A capital francesa é reconhecida como a capital mundial das manifestações de rua.
Ao longo de 2015 e no primeiro trimestre deste ano, ocorreu um total de 2.456 manifestações reivindicativas em Paris, uma média de mais de cinco por dia, segundo as fontes oficiais. Bandeiras e protagonistas não faltam: protestos contra o racismo e o antissemitismo; o sexismo e o preconceito a gays, lésbicas e transexuais; a austeridade e o desemprego; os armamentos nucleares; a reforma da escola pública; o fim do programa de rádio Là-bas si j'y suis, criado em 1989. Mesmo os policiais protestam nas ruas exigindo um adicional por "risco terrorista" e contra a violência sofrida nas diversas manifestações.
Os franceses "têm uma necessidade visceral de descer às ruas para manifestar-se por não importa qual razão", disse certa vez o comissário Pierre Mure, que dirigiu o Departamento de Ordem Pública e de Circulação (DOPC) da polícia de Paris. O "status bastante liberal que rege as manifestações explica a sua frequência", concluiu o policial.
Mas nem sempre foi assim. Antes de se impor como rotina na cidade, a manifestação, nos moldes em que é hoje praticada, surgiu como um elemento intruso da modernidade urbana no século 19. Da Revolução Francesa de 1789 à Comuna de Paris de 1871, a rua parisiense foi o berço das revoltas pelas quais regimes emergiram e caíram, assinala Danielle Tartakowsky, especialista em história política da França e autora do ensaio Manifestar em Paris – 1880-2010. Clássicos da literatura, como Os miseráveis (1862), de Victor Hugo, e das artes, como A liberdade guiando o povo (1830), de Eugène Delacroix, possibilitaram ao imaginário político sedimentar de forma durável o sentimento de que "Paris (…) só é Paris em se arrancando seu calçamento", nas palavras do poeta Louis Aragon (1897-1982), acrescenta a historiadora (vide Maio de 68).
Em Paris, diferentemente de Londres e Berlim, mais extensas, o pedestre se inscreve de forma mais íntima na cidade em um vínculo de longo prazo, sustenta a historiadora:
– Paris não se viu impor de forma precoce grandes espaços tipo o Hyde Park, em Londres, ou os amplos parques de Berlim, que são abertos aos agrupamentos, mas impróprios a passeatas. Aqui, há sem dúvida uma relação particular com a estrutura urbana e a história política. Inegavelmente, a mobilização coletiva em suas formas gerais foi um elemento forte na história francesa.
Na sala de comando do DOPC de Paris, repleta de telas exibindo em tempo real imagens captadas pelas mais de 13 mil câmeras de vigilância espalhadas pelas cidade, as atenções estão também centradas nas manifestações previstas em diferentes locais. Certa vez, conversando com Arianne, 23 anos, estudante de Direito, assentada na calçada do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o mítico Sciences-Po, na Rua Saint-Guillaume, ela me disse:
– No tempo do colégio, todo mundo já saiu um dia à rua para se manifestar, mesmo sem saber verdadeiramente qual motivo, e às vezes só para matar aula.
Não deixa de ser um outro tipo de aula: o aprendizado da democracia.
1 bar + 1 hotel nas águas do Sena
Paris ganhou recentemente duas novas atrações em seu célebre rio que corta a cidade. O Flow, instalado ao pé da ponte Alexandre III, num barco de 40 metros de comprimento por 14 metros de largura, tornou-se um dos novos spots da capital francesa. Autodefinido como um "navio vanguardista", tem um bar, um restaurante e uma brasserie gastronômica, um sala de shows e um rooftop de 360° com vista para os Invalides e o Grand Palais.
Já na Paris leste, no Quai d'Austerlitz – próximo da Cité de la Mode et du Design –, foi inaugurado o "primeiro hotel flutuante" da cidade. Com 58 quartos – sendo quatro suítes –, o OFF Paris Seine é uma junção de dois cascos de barcos, o que permite um espaço interior aberto de 80 metros de comprimento por 18 metros de largura, com bar, solarium, piscina e um terraço de 400 metros quadrados.