O PT sempre se caracterizou por saber construir narrativas adequadas a uma estratégia política de conquista e preservação do poder. Seguia a lógica de suas ideias, produzindo, retoricamente, o convencimento da sociedade brasileira. Expressão disto foi o seu êxito.
Os fatos, porém, não correspondiam aos discursos, grandiloquentes e fundamentalmente deslocados da realidade. Em momentos como o atual, essa narrativa chega a ganhar um toque de ficção político-científica. Uma nesga de discurso permanece e o país está literalmente em um buraco. O buraco cavado pela ideologia.
Inebriados com suas próprias ideias, ou melhor, com o arremedo delas, terminaram convencendo a si mesmos de que a realidade não mais contava. Apenas a "sua" realidade. Agora, porém, ela cobra o seu preço. O resultado é a completa desorientação.
Isto faz com que a narrativa petista esteja cada vez mais truncada, revelando um partido sem norte. Vários conceitos estruturantes de sua narrativa vêm perdendo eficácia e os que estão sendo testados tampouco têm produzido resultados.
Por exemplo, o discurso do golpe está nitidamente enfraquecendo, apesar de ter ainda alguma ressonância fora do país. Os próprios petistas, ao repeti-lo à exaustão, dão certa mostra de que desconhecem um outro caminho possível de ser oposição. E as instituições estão se fortalecendo, expondo a completa inadequação desse conceito para as atuais circunstâncias.
Um outro exemplo consiste na proposta de uma consulta para um plebiscito visando a uma antecipação das eleições de 2018. Aí a confusão é ainda maior. A proposta chega a ser hilária, pois a presidente afastada estaria lutando para voltar ao poder disposta a renunciar. Não faz sentido. Ademais, deveria combinar antes com os russos, pois só teríamos novas eleições com a renúncia simultânea do presidente interino, que evidentemente não daria tal passo.
Pior ainda, a presidente não combinou direito nem com o seu próprio partido e com os movimentos sociais que em torno dele gravitam. O MST e o MTST são contra. Outros setores do partido também. Ou seja, a presidente e o PT colocaram publicamente em pauta uma proposta que não possui nenhum consenso interno. Eles apenas expuseram suas contradições internas, algo que torna impossível a construção de uma narrativa coerente que possa vir a suscitar a adesão da sociedade.
Tal imbróglio revela somente as extremas dificuldades que a presidente e o seu partido encontram para elaborar uma estratégia. Estão perdidos.