Quando se pensa em poluição urbana, a primeira cidade mencionada é Pequim, a caótica capital chinesa, célebre por seus céus sobrecarregados de impurezas. Mas um estudo de saúde pública divulgado nos últimos dias alertou os parisienses, e os franceses em geral, sobre os perigos da poluição citadina para seu bem-estar e sua longevidade. O relatório da nova agência de saúde pública do governo aponta a poluição como a terceira causa de morte na França, com 48 mil vítimas anuais, atrás apenas do tabaco (80 mil) e do álcool (49 mil). O mal afetaria hoje cerca de 47 milhões de franceses, de uma população total de 66 milhões. Nos centros urbanos de mais de 100 mil habitantes, a média de esperança de vida decresce 15 meses para pessoas de cerca de 30 anos de idade por causa do ar poluído.
O vilão da história são menos os picos de poluição e mais a presença constante de partículas finas no ar. Segundo o diagnóstico das autoridades sanitárias, 34 mil das 48 mil mortes anuais poderiam ser evitadas se esse problema fosse tratado com a rapidez e a seriedade que merece. Num cenário ideal, a concentração média anual de partículas finas nas comunidades urbanas não deveria ultrapassar o índice de 4,9 µg/m³. Em Paris, a atual média anual é de 18,4 µg/m³.
Os dados reforçam a política da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, de reduzir a poluição provocada pelos veículos que circulam pela cidade, fruto de frequentes polêmicas com os automobilistas. A partir de 1° de julho, será implantado um sistema de seis vinhetas de diferentes cores a serem coladas nos carros, cada uma correspondente a um nível de poluição, o que poderá ajudar numa eventual filtragem em dias críticos. E, na capital francesa, veículos com registro anterior ao ano de 1997 serão banidos de circulação.
À parte a poluição, os parisienses enfrentaram uma de suas piores primaveras neste ano: nunca choveu tanto na cidade desde 1870.
DEZ ANOS DO QUAI BRANLY
À sombra de seus pares mais famosos na capital francesa, como os museus do Louvre e d’Orsay, o museu do Quai Branly, instalado à beira do Rio Sena em um projeto do arquiteto Jean Nouvel e do paisagista Gilles Clément, comemora uma longa década de vida neste ano. Conhecido por sua coleção de 300 mil obras de artes primitivas, o museu é subestimado pelo turista acidental, que geralmente prioriza outros pontos turísticos da cidade. Ainda assim, sua frequência média anual é de 1,5 milhão de visitantes. O local, que diversifica suas mostras e atividades – vide o sucesso de uma recente mostra sobre a história da tatuagem, de seus princípios até os dias de hoje –, foi recentemente rebatizado com o nome do ex-presidente francês que inspirou sua criação, e agora é chamado "Quai Branly-Jacques Chirac". Para celebrar o aniversário, o museu organizou uma festiva programação de 30 horas ininterruptas neste fim de semana, do sábado pela manhã até o domingo à noite. No cardápio, estão as já conhecidas “sestas eletrônicas” com música ao vivo em seus jardins, mas também sessões de ioga nos terraços dos telhados, conferências e espetáculos-surpresa, concertos, workshops, speed datings de 30 minutos com pesquisadores ou ateliês de iniciação artística. "Todo um programa", como dizem os franceses.
CONCERTO NA BASÍLICA
A violoncelista gaúcha Dom La Nena, que acaba de receber a nacionalidade francesa, continua surpreendendo nos palcos do mundo. Na segunda-feira, se apresentou com seu projeto Birds on a Wire, o duo que faz com a cantora Rosemary Standley – do grupo folk Moriarty –, no mágico cenário da histórica Basílica de Saint-Denis, acompanhada da orquestra Britton Sinfonia, e com arranjos do inglês Mike Smith, que tem no currículo colaborações com Blur, Damon Albarn, Gorillaz ou Cat Stevens.