Opa, vejam só: três militares e um delegado de polícia brasileiros serão processados na Itália pelo assassinato do ítalo-argentino Lorenzo Vinãs durante a Operação Condor.
As informações são do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH).
Trata-se dos coronéis João Osvaldo Leivas Job, Carlos Alberto Ponzi e Átila Rohrsetzer, e do delegado Marco Aurélio da Silva Reis (morto no último dia 2).
O juiz Alessandro Arturi, do Tribunal de Roma, aceitou a denúncia do procurador Giancarlo Capaldo. Se condenados, os militares brasileiros podem pegar prisão perpétua.
No total, são mais de 30 réus por envolvimento na Operação Condor, também de outros países.
A Justiça italiana se debruça faz anos nos casos de 25 ítalo-argentinos e ítalo-uruguaios vítimas do Condor.
– A perspectiva é de termos uma sentença ainda neste ano – diz Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, que representa as famílias das vítimas e acompanha as investigações de Capaldo.
Lorenzo Viñas era da organização Montoneros, de resistência armada à ditadura na Argentina.
Desapareceu em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, em 26 de junho de 1980.
Quando foi correspondente do jornal Folha de S. Paulo em Buenos Aires, este colunista acompanhou o sofrimento da mulher de Viñas, Claudia Alegrini, e de sua filha Paula.
Viñas, filho do historiador David Viñas, morreu quando Claudia estava grávida.
Na época em que ele foi sequestrado e desapareceu, Leivas Job era secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, Ponzi chefiava a agência do Serviço Nacional de Informações (SNI) em Porto Alegre, Rohrsetzer era diretor da Divisão Central de Informações do Rio Grande do Sul e Silva Reis dirigia o (Departamento de Ordem Política e Social (Dops) no Rio Grande do Sul.
O procurador arrolou os brasileiros por considerar natural seu conhecimento a respeito da Operação Condor e dos seus desdobramentos em solo gaúcho.
A investigação da Itália começou após denúncia de familiares de vítimas que tinham cidadania italiana, em 1998, já que em solo sul-americano as leis de anistia dificultavam a punição dos culpados. Capaldo recolheu documentos e ouviu testemunhas em todos os países envolvidos na Operação Condor. Procurou entender o funcionamento dos aparelhos repressivos de cada país para indiciar os responsáveis pelas mortes.
No Brasil, houve dois desaparecimentos de ítalo-argentinos (ambos teriam sido entregues por órgãos repressores brasileiros à repressão argentina e desapareceram):
– Horacio Domingo Campiglia foi visto pela última vez no dia 12 de março de 1980, no aeroporto Galeão, Rio de Janeiro (atual aeroporto Tom Jobim).
– Lorenzo Ismael Viñas foi capturado quando atravessava a ponte que liga Uruguaiana à cidade argentina de Paso de los Libres, em 26 de junho de 1980.
Obs: houve seis argentinos desaparecidos no Brasil durante a ditadura militar e a vigência da Operação Condor. Os casos de Campiglia e Viñas serão levados à Justiça italiana porque eles são ítalo-argentinos.