As Farc estão pedido ao governo colombiano ação contundente contra os grupos paramilitares na Colômbia e advertem que, sem isso, não será possível materializar o acordo de paz prestes a ser concluído com Bogotá.
"Com grupos paramilitares, com crimes e atentados, com ameaças e terror, não se pode materializar a paz", afirmou o grupo em um comunicado lido em Havana, na retomada dos diálogos de paz após uma pausa de duas semanas.
A organização pediu ao governo de Juan Manuel Santos a que termine com os grupos ilegais que no passado combateram os rebeldes e cometeram violações dos direitos humanos. Santos assegura que os grupos aos quais a guerrilha se refere são, na realidade, bandos criminosos dedicados ao narcotráfico e que surgiram da grande desmobilização dos paramilitares da ultra direita durante o mandato de Álvaro Uribe (2002-2010).
Aqui, reproduzo texto que fiz anteontem sobre o assunto:
"As últimas horas foram tensas. Tudo começou com o tiroteio na quinta-feira, que foi intenso e longo. Na sexta-feira, foi tudo muito complicado, porque as pessoas estão com medo. Recomendam que não se saia de casa para ir a Belén Rincón, e, veja, até queimaram um ônibus. Coisa complicada..."
Assim é o relato de Daniel Ramírez, um morador de Lomas de los Bernal, em Medellín.
Sabe-se que muitos perdem com o processo de paz.
Mas agora o que se vê é a clara tentativa de boicotá-lo. Ou de expandi-lo para além das agrupações políticas, impondo um contexto geral de impunidade, que inclua criminosos comuns.
O "Clã Úsuga" resolveu intensificar suas ações, amedrontando a população. Seis pessoas foram mortas, ônibus foram incendiados. Um cenário de pânico e caos, dantesco!
Trata-se de um organização narcoparalimilitar, que ganha muito com a insegurança pública.
E perde muito com a pacificação do país! Em especial se não estiver incluída...
Os bandidos tentam impor o medo, especialmente no departamento de Antioquía, cuja capital é Medellín. A cidade é foco de uma busca pela pacificação, um símbolo da concórdia nacional.
Nos anos 1990, o índice de homicídios em Medellín, na Colômbia, era assustador: 360 casos para cem mil habitantes. Em 2006, o número baixou para 39 casos a cada cem mil habitantes. A "revolução" se deu a partir de projetos culturais. Medellín se converteu, nos últimos 10 anos, numa referência de palavras positivas: transformação social, mudança e cultura. Nem as cidades que têm os maiores índices alcançam os números que Medellín teve 10 anos atrás.
Logo, trata-se de uma evidente afronta da bandidagem!
Escolas, comércios, transportes e serviços públicos, nos últimos dias, fecharam suas portas para evitar a violência. Não bastasse isso, a ex-senadorra Piedad Córdoba, espécie de interlocutora política entre o governo e a guerrilha, teria sido vítima de uma tentativa de atentado.
O presidente Juan Manuel Santos define as ações dos grupos armados como uma tentativa de serem aceitos em um processo de paz como se fossem entidades políticas.
Por outro lado, o processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), cuja conclusão era prevista para 23 de março, está em suspenso. Santos quer que a guerrilha estabeleça a data do seu desarmamento para só então marcar nova data do acordo.
O desgaste que o impasse provoca é evidente.
No sábado, milhares de colombianos protestaram em mais de 20 cidades do país contra o governo de Santos e o processo de paz com as Farc, em uma convocação do partido de seu principal opositor, o ex-presidente Álvaro Uribe (de direita).
Apesar da forte chuva que caiu em algumas cidades, os manifestantes, convocados pelo partido Centro Democrático, saíram vestidos com as cores da bandeira colombiana - amarelo, azul e vermelho - e levaram cartazes com mensagens como "Santos, traidor, renuncie já", "Chega de impunidade", "Chega de corrupção" e "Santos presidente das Farc".
- O protesto é por um inconformismo geral contra o governo do presidente Santos. Não queremos que haja impunidade nos processos de paz. Estamos cansados de tantas mentiras e manipulação econômica, impostos e inflação – diz Francisco Santos, dirigente do Centro Democrático.
Uribe, filho de um pai que foi vítima da guerrilha, é crítico ferrenho do processo de paz que o governo mantém com as Farc desde novembro de 2012, porque considera que deixa a porta aberta para a impunidade a partir do acordo parcial de Justiça com a guerrilha. Sustenta que o mesmo ocorreria nas negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevaristas) - a segunda guerrilha do país -, um processo anunciado na quarta-feira passada em Caracas e que terá palco de negociações também no Brasil.
- A guerrilha tem que pagar por todos os assassinatos que cometeu contra os colombianos e precisamos e exigimos que sejam presos. Todos esses criminosos têm que ir para a prisão - afirmou à agência de notícias France Presse Carmen Berardinelli, manifestante em Bogotá.
Uribe, que governou entre 2002 e 2010, diz que há uma perseguição judicial contra ele e seu partido devido às múltiplas investigações contra ex-funcionários seus por vínculos com grupos paramilitares de extrema-direita no seu governo.