Enquanto a Justiça passa a limpo suspeitas dos 12 anos de kirchnerismo, com aliados do "casal K" na prisão, o atual presidente da Argentina, ainda sem ter fechado o primeiro semestre do mandato, enfrenta a revolta das centrais sindicais. Dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram na sexta-feira a pedido das cinco centrais do país, separadas durante os 12 anos kircheristas e reunidas agora, após quatro meses e três semanas do governo Macri. Motivos: aumentos violentos nas tarifas públicas e demissões num cenário de alta inflação.
– Estávamos desencontrados, mas, dada a situação que vivemos, estamos juntos – disse, para a agência de notícias France Presse (AFP), Antonio Caló, secretário-geral de uma das alas da Confederação Geral do Trabalho (CGT), ao ressaltar que os sindicatos estão unidos após "quatro meses em que cortaram postos de trabalho, foram feitos ajustes e a pobreza aumentou".
O centro de Buenos Aires e o acesso ao bairro de San Telmo foram bloqueados pela mobilização convocada por líderes sindicais históricos, que antes eram adversários e divergiam em relação ao kirchnerismo.
– É uma convocação histórica, porque estamos todos juntos para defender os trabalhadores – disse o líder histórico da CGT, Hugo Moyano, que até semanas atrás era considerado sindicalista aliado de Macri.
Pablo Micheli, líder da Central de Trabalhadores Argentinos (CTA), acrescentou:
– Vamos aprofundar a luta e, se não formos ouvidos, haverá greve geral nacional.
A mobilização que serve para comemorar o Dia do Trabalhador em frente a um monumento no bairro de San Telmo de Buenos Aires encerra a semana em que Macri sofreu sua primeira derrota parlamentar. O Senado aprovou na quarta-feira uma lei antidemissões que o presidente promete vetar caso seja aprovada pela Câmara dos Deputados. Só que, caso esse veto seja efetivado, "a luta será aprofundada", adiantou Hugo Yasky, dirigente da CTA.
As manifestações esperam frear as demissões, o "tarifaço" de em média 300% nos serviços básicos (foi de 100% nos transportes a 500% na energia) e a inflação que já se aproxima de 40% ao ano.
Os cartazes antecipam uma greve nacional, caso Macri vete a lei antidemissões. "Greve geral já, se Macri vetar lei antidemissões", anunciavam.
As três alas da majoritária CGT e as duas vertentes da CTA deixaram de lado as diferenças que os dividiram durante a gestão de Néstor e Cristina Kirchner (2003/2015) para enfrentar o que consideram uma investida contra os trabalhadores, num dia que definiram como "histórico".
Um dado histórico é sempre importante lembrar: os sindicatos argentinos têm uma tradição de tornar irrespirável o ambiente para governos, em especial os que não são peronistas - o caso de Macri (Néstor e Cristina Kirchner eram presidentes peronistas). Recentemente, houve os casos das renúncias de Raúl Alfonsín e Fernando de la Rúa, ambos da União Cívica Radical (UCR), rival do peronismo. O detalhe é que o governo de Macri está só começando...