A França vive seus tempos de Spotlight: Segredos Revelados, filme vencedor do Oscar deste ano, que conta como a incansável equipe de jornalistas do The Boston Globe desvendou o escândalo de pedofilia no seio da Igreja Católica na região de Boston. Por aqui, o cenário é a cidade de Lyon, e um dos principais personagens é a recém-nascida associação La Parole Libérée ("A Palavra Liberada"). Fundada em dezembro passado, a associação foi criada para quebrar a "regra do silêncio" em casos de abusos sexuais e servir como um meio de expressão e de apoio para vítimas de nove a 11 anos que sofreram abuso no período entre 1970 e 1991 e integrantes do grupo de escoteiros Saint-Luc, dirigido então pelo padre Bernard Preynat, visado pelas acusações.
Aos poucos, foram emergindo e sendo publicados no site da Parole Libérée testemunhos capazes de "provocar frio na espinha", como definiu François Dévaux, presidente da associação. O próprio clérigo Preynat escreve, em uma carta à família de uma de suas vítimas: "Nunca neguei os fatos. Eles são também para mim uma ferida em meu coração de padre". Na semana passada, a revelação da condenação pela Justiça de Lyon, em 12 de fevereiro último, com toda discrição, de outro padre, Guy Gérentet de Saluneaux, 81 anos, ampliou a lista de pecados eclesiásticos na localidade. De reputação tradicionalista, ativo militante contra o aborto – chegou a se acorrentar diante de uma clínica –, o padre foi sentenciado a dois anos de prisão, com direito a sursis, por agressões sexuais contra oito meninas, cometidas entre 1989 e 2000. "Com as melhores intenções, se faz besteiras", tentou se explicar descaradamente.
E mais casos começam a surgir. A associação La Parole Libérée está agora empenhada em mais uma batalha: acionou a Justiça para obter o afastamento do cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, acusado de saber das atitudes pedófilas de membros de seu rebanho e de não tê-los denunciado.
Cadeiras-poetas
Para quem acha que a poesia está morta, é só flanar pelo belo jardim do Palais-Royal, no centro de Paris. A paisagem é inspiradora, certo, mas não se trata disso. O artista canadense Michel Goudet e o francês François Massut, fundador do grupo Poésie Is Not Dead, criaram o projeto Os Confidentes. São 10 cadeiras semelhantes àquelas normalmente disponíveis ao público no jardim, mas acopladas em duplas, vis-à-vis. Basta plugar fones de ouvido num pequeno aparelho instalado entre as duas cadeiras para ouvir poemas recitados por atores ou, no caso de versos contemporâneos, pelos próprios autores. Entre os poetas escolhidos, estão nomes como Charles Baudelaire, Guillaume Apollinaire, Arthur Rimbaud, Paul Verlaine ou Yves Bonnefoy. Uma ideia poética, e de graça.
Questão de DNA
Aos 28 anos, Luna Picoli-Truffaut acaba de estrear seu quinto filme como atriz, Dois Rémi, Dois, de Pierre Léon. Diplomada em Belas Artes, também aprecia a fotografia e o grafismo. E, além disso, canta. No início, inscreveu-se secretamente em cursos de teatro, até fazer – como costuma dizer – seu “coming out”. E é também neta de um dos grandes nomes da Nouvelle Vague, François Truffaut. Em breve, estará nas telas do próximo filme de Fanny Ardant, que foi a última companheira de seu célebre avô cineasta.