Tensão e distensão no início da entrevista coletiva de Barack Obama e Raúl Castro, na histórica segunda-feira em Havana. Tensão: pergunta sobre presos políticos em Cuba. Raúl fecha a cara, e Obama o socorre. A distensão: o questionamento sobre quem seria melhor para Raúl. O republicano Trump ou a democrata Hillary? O presidente cubano nem precisava responder, e Obama... bem, era, provavelmente, algo que ele muito queria ouvir.
É possível que a festejada viagem de Obama à ilha socialista tenha as imagens que mais favorecerão a candidata Hillary na disputa com Trump. A questão é prática. Os americanos estão encantados com a perspectiva de que novos negócios se abrirão, em um mercado sedento e, por isso, de altíssimo potencial. Pesquisa divulgada ontem pelo jornal The New York Times e pela rede de TV CBS mostra que 58% dos americanos estão de acordo com a reaproximação, contra apenas 25% contrários. Mais: 44% entre os republicanos querem a retomada das relações. Como Trump já é visto com desconfiança pelo seu partido, Hillary talvez consiga votos até no reduto adversário.
O fato é que a visita em curso vai bem além do simbolismo. Nos EUA, os efeitos serão eleitoralmente concretos. Em Cuba, a abertura se esgaçou de vez. Nenhuma medida foi anunciada, é certo. Mas o avião de Obama chegando mediante o olhar de criancinhas cubanas e o sorriso sedutor do primeiro presidente americano negro são mais concretos que qualquer anúncio. E, entre tantas palavras proferidas, uma delas tem o botão mágico de provocar mudanças antes inimagináveis: Google. Sim, Obama revelou que a empresa americana, aquela a que você recorre sempre que quer saber algo a mais, já prepara a entrada no mercado cubano. A internet acessível opera muito mais do que palavras, mais do que sofismas. A informação que ela carrega muda o mundo, como todos sabemos.
Veja a galeria de fotos da visita histórica: