Há quem imagine que as disputas políticas no Brasil possam ser descritas como um confronto entre "direita" e "esquerda". Sinto dizê-lo, mas essa é uma forma de viajar na maionese. Posições à direita e à esquerda existem e podem ser localizadas - com certa dificuldade, é verdade - em muitos temas. O emprego das expressões, sobretudo após o fim da guerra fria, serve basicamente para demarcar posições mais pró-mercado ou mais pró-regulação, as primeiras tendencialmente mais liberais em termos econômicos, as últimas alegadamente mais focadas na redução das desigualdades sociais. Digo "tendencialmente" e "alegadamente" porque os liberais no Brasil adoram falar em "Estado mínimo", mas apreciam ainda mais o BNDES e o Carf, e porque a esquerda, uma vez no poder, descreve as chamadas conquistas sociais em termos épicos quando, na verdade, não foi capaz de criar sequer um arremedo de Estado de Bem-Estar.
Artigo
Irmãos siameses
Jornalista e sociólogo