Desde que tomou posse, o presidente argentino Mauricio Macri tinha duas visitas prioritárias a colegas, ambos da sua vizinhança. Primeiro, Dilma Rousseff, com quem se encontrou em Brasília antes mesmo de assumir o mando da Argentina, tal era a urgência de acertar os ponteiros com o Brasil. A outra prioridade, menos premente, era o uruguaio Tabaré Vázquez. O incrível nisso é o seguinte: em ambos os casos, apesar de supostamente a antecessora Cristina Kirchner ter mais afinidades ideológicas com os presidentes vizinhos, a questão era de consertar os estragos feitos por um governo que impunha uma série de restrições às relações bilaterais. Este colunista sabe que Macri e Dilma se viram muito mais próximos do que rezam as vãs teorias. Agora, o mesmo ocorre nesta quinta-feira em relação ao socialista Tabaré. Os dois trocaram um longo abraço e festejaram coincidências como a de quererem, ambos, abrir o Mercosul para relações mais próximas, por exemplo, com a União Europeia.
Nesta quinta-feira, com Tabaré, os temas ultrapassaram a fronteira entre Argentina e Uruguai, e respingaram no Brasil, claro, país que tem longa fronteira com os dois países - em especial no Rio Grande do Sul.
E a fronteira gaúcha ficou em polvorosa com o encontro. Por quê? Porque os presidentes de Uruguai e Argentina anunciaram que serão candidatos para receber de forma conjunta a Copa do Mundo de futebol em 2030, cem anos depois da primeira edição do torneio ter ocorrido justamente em solo uruguaio.
- Não existe melhor oportunidade (de consolidar os laços) que nos comprometermos a nos candidatar juntos para sediar esse mundial - disse Macri ao lado de Tabaré, depois de uma reunião na residência presidencial uruguaia de Anchorena, 210 quilômetros a oeste de Montevidéu.
A Argentina também foi sede de Copa uma vez, em 1978, e conquistou o título em casa, como a "Celeste" conquistara em 1930. Ambas as seleções são bicampeãs mundiais, com o Uruguai levando o segundo troféu em 1950, no Brasil, e os argentinos em 1986, no México.
Antes de se tornarem chefes de Estado, tanto Macri quando Tabaré presidiram clubes de futebol, o argentino no Boca Juniors e o uruguaio no Progreso.
O encontro entre os dois teve "agenda aberta", conforme informou o cerimonial. Foi um almoço em parque de 1.369 hectares doado em testamento pelo aristocrata argentino Aarón de Anchorena, em 1965.
O local fica no departamento (Estado) de Colonia. Ambos coincidiram que pretendiam "afinar a relação" e "virar a página" nas relações salpicadas de conflitos na última década. Ambos disseram ter "vocação para o diálogo".
Na pauta, além do futebol, entrou comércio exterior, claro, e segurança.
E, sem trocadilhos, bola pra frente...