A oposição teria, sim, assegurado impressionantes 112 assentos entre os 167 do Legislativo venezuelano. Quem assegura isso a Zero Hora é a escritora e jornalista Milagros Socorro, uma das analistas mais respeitadas da Venezuela. Desde as primeiras horas desta terça-feira, o insuspeito Conselho Nacional Eleitoral (CNE) já havia assegurado 110 assentos oposicionistas, 55 do governo e duas dúvidas. A deputada eleita Delsa Solórzano diz que recebeu a informação oficial de que a conta fecha nos 112. Confirmando-se isso, com dois terços dos legisladores, o presidente Nicolás Maduro está emparedado. A oposição atingiu 64,07% dos votos, enquanto o governista PSUV ficou com 32,93%. A diferença é superior a 31 pontos. A derrota governista é reveladora da insatisfação dos venezuelanos com a inflação de 200%, o crescimento negativo tocando nos 10%, o desabastecimento de metade da cesta básica, a criminalidade nas alturas e os índices de pobreza idem.
O fato, porém, é que a MUD compõe uma ampla coalizão cujo ponto de partida é o antichavismo. Setores ligados ao moderado Henrique Capriles e ao intransigente Leopoldo López discordam na forma, mas concordam na vontade de pôr fim ao bolivarianismo naquele que é o seu berço – a Venezuela. Isso deve lhes dar uma unidade rara no país, que extrapola os números. Divergências? Ficam para depois de chegar ao objetivo comum.
Se os números e a unidade em torno do inimigo comum são péssimas notícias para Maduro, há outra, no plano subjetivo, que talvez até seja mais grave. Nada assegura que os 55 deputados da futura minoria chavista se mantenham fiéis a um presidente que, para muitos, contraria os preceitos de Hugo Chávez, o líder morto em março de 2013. Se já há dissidentes do chavismo entre os 112 novos deputados, essa debandada tende a aumentar. E, nesse caso, Moderados, radicais e chavistas descontentes, todos eles podem, a partir da posse em 5 de janeiro, criar ou suprimir comissões legislativas, aprovar e modificar leis orgânicas, submeter a referendo tratados internacionais e projetos de lei, remover magistrados, designar integrantes do CNE, aprovar projeto de reforma constitucional e até afastar o presidente. Detalhe: os integrantes do CNE estabelecerão as regras para o referendo revogatório, o instrumento pelo qual, na metade do mandato de seis anos, o presidente eleito em abril de 2013 pode ser apeado do poder. É como um recall constitucional. A oposição sempre viu nas eleições legislativas a chance de evitar que o governo estabelecesse as regras dessa votação. Conseguiu isso com sobra.