Abílio Diniz, Antonio Manssur Filho, Edith Bertolleti, Graciema Bertolleti, Fernando Nabuco, João Dionísio Amoedo, Márcio Utsch, Ricardo Chester, Samuca Seibel. Nove histórias unidas por dois eixos: sucesso profissional e maratona. Esse é o mote de Vidas Corridas (Edições de Janeiro), novo livro de Sérgio Xavier Filho, que será lançado nesta quinta-feira, a partir das 19h, com sessão de autógrafos na Livraria Cultura, do Bourbon Shopping Country (Avenida Tulio de Rose, 80).
Sérgio, natural de Porto Alegre, é jornalista e foi diretor de redação das revistas Placar e Runner's Brasil e editor da Playboy. Figura conhecida no mundo das corridas, também é maratonista. Já escreveu dois livros sobre o assunto: Operação Portuga e Correria, ambos da editora Arquipélago. Em Vidas Corridas, Sérgio quis mostrar o que o sucesso profissional e a preparação para uma maratona têm em comum.
Conversei com Sérgio por telefone um dia antes de ele vir a Porto Alegre para autografar o livro.
Do que se trata exatamente o Vidas Corridas?
Fui atrás de histórias de sucesso empresarial, porque eu queria fazer pequenas biografias (nove histórias compõem o livro). Qual foi minha regra básica para as escolhas? O cara tinha que se dar bem na vida. Esse era o parâmetro um. O parâmetro dois era ter corrido pelo menos uma maratona. Não vale meia, tinha de ser uma completa. E aí entrava o terceiro parâmetro, de uma história conversar com a outra: de vida ou executiva tinha que ter tido uma ajuda da corrida ou do esporte, da maratona. Fui atrás dessas histórias. O que achei que ia ser tranquilo virou uma encrenca danada, porque, na minha cabeça de jornalista, eu ia fazer nove perfis. Quando me dei conta, era mais do que isso, nove mini biografias, com todo o trabalho que uma biografia dá, de pesquisa, checagem de fonte, números, informação. O que eu achei que ia levar seis meses levou um ano e meio.
A parte mais difícil foi achar essas pessoas?
Achar foi relativamente fácil. Como eu conheço muita gente na corrida, disparei meus contatos: "Olha, eu preciso de gente com essa característica, conhece alguém?". Aí eu fui selecionando tudo até que cheguei a essas nove pessoas. Era para ser oito, só que uma das meninas (tem duas mulheres no livro) tinha uma irmã gêmea. As duas correm muito bem e são super executivas. Quando eu fui falar com uma delas, em algum momento ela me disse: "Ah, mas isso acho melhor você checar com minha irmã". Daqui a pouco eu comecei a ver que as duas corriam juntas, eram complementares, e a a história de uma perseguir a outra e ao mesmo tempo ajudar era uma grande história de amor entre irmãos. Aí vi que tinha de fazer mais uma. Foi quando entrou o nono personagem.
E isso de ligar história de vida, de sucesso empresarial, ao treinamento para a maratona, partia de alguma hipótese inicial de que uma influenciasse a outra?Não era nem hipótese, pqra mim era uma certeza. Porque como eu estou há 10 anos nesse negócio, fiz a revista Runner's, escrevi dois livros, comecei a ver que tinha uma relação muito direta de sucesso com a maratona. A partir daí, me peguei pensando: "Se tem um esporte que precisa de tempo é a maratona". É diferente de correr 10 quilômetros. Precisa ter tempo para treinar. Um cara que não tem tempo é o grande executivo. Então, tem uma incongruência aí. Como é que fecha esse negócio? Aí fui entender que alguns elementos da corrida, sobretudo da maratona, tem tudo a ver com o jeito perfeito de você trabalhar. Primeiro eu achava que era a questão da superação. Claro, esse é um dos elementos da maratona, mas o principal é outro: a disciplina de colocar uma meta e buscar concluir. Qualquer um pode correr 10 quilômetros, maratona não é qualquer um que pode. Acho até que pode ser qualquer um que corre, desde que treine, mas treine de verdade. E isso é igualzinho ao trabalho. Naquele bem feito, para você ser diferente dos outros, tem de trabalhar treinando, na verdade. Você vai, traça uma meta, e faz o diabo para cumprir aquela meta. Acho que esse é o fio condutor que também amarra os dois assuntos.
O foco no treino seria, então, uma lição que as pessoas levam para a vida profissional?
Sim. E eu acho que é legal porque também se amarra às vidas pessoais. Putz, tem drama, tem gente que perdeu ente querido no meio da sua trajetória, tem gente que se reinventou no trabalho, são nove histórias, mas são nove diferentes. Tem cara que usou a maratona de uma forma, tem um que usou de outra. E as primeiras respostas que eu tenho tido (sobre o livro) são meio curiosas. Não tem uma pessoa que diga para mim a mesma coisa sobre o livro. Do tipo "ah, gostei do livro, adorei tal história". E aí vem outra: "Ah, eu adorei a história do Samuca". Samuca é o dono da Livraira da Vila, em São Paulo. "Eu adorei a história do Manssur", dizia outra. Manssur é um superatleta e um superjuiz, que trabalha em uma vara de São Paulo. A mesa dele é limpíssima (poucos processos), um dos juízes mais conceituados, e é o cara que mais treina também. Então, dá para você amarrar tudo (os sucessos nas áreas). E eu acho que a corrida, não só a maratona, são boas ajudas para as pessoas.
Das nove histórias, tem de alguém que tenha corrido uma maratona só? Qual a média de provas concluídas pelos personagens?
É bem variado. A maioria correu mais, mas o Abílio Diniz (grande empresário brasileiro), por exemplo, correu três maratonas, não de forma muito rápida, mas, ao mesmo tempo, é o pai das maratonas no Brasil. Super incentivador, se apaixonou pelo tema, por isso que ele entrou no livro. Mas o juiz, o Antonio Manssur Filho, ele tinha corrido duas maratonas só, mas virou triatleta. Tem outro cara, importante no livro, com uma história mais esportiva, que é o Fernando Nabuco. Ele é presidente da Bolsa de Valores de São Paulo. Esse cara é um Forrest Gump, fez tudo que você possa imaginar, inclusive nadar pelo Brasil nas Olimpíadas de Roma em 60. Fez de tudo, foi campeão de motonáutica, foi fundador da Federação de Ciclismo. Esse cara correu duas maratonas, mas fez muitas outras coisas, que conto no livro.
É verdade que esse livro te tomou muito mais tempo do que os outros dois?
Sim. Eu ia fazendo tudo ao mesmo tempo: trabalhando, tirei um pouco de férias no meio, que usei para escrever, mas, mesmo assim, eu só dei conta por causa dos finais de semana, que me ajudaram um pouco na lida. E no meio desse livro, eu corri duas maratonas (risos). É um jeito de te colocar na ativa.