Tive mais professoras inesquecíveis do que professores. Por isso, sempre achei um pouco injusto chamar o 15 de outubro somente de Dia do Professor, com a conotação masculina que o substantivo evoca, ainda que possa ser considerado apenas a denominação genérica de um ofício. Não quero entrar nesse debate apaixonado sobre linguagem de gênero. Quero, apenas, homenagear as mestras que me ajudaram a entender e a juntar essas letrinhas com as quais tento me comunicar a cada semana com leitores e leitoras.
Hoje, portanto, é o dia da professora Laérte Rick, que me apresentou o ABC no primeiro ano do antigo Grupo Escolar Dr. Ferreira de Abreu, no bairro Sarandi, onde completei os cinco anos do então chamado Primário — atualmente Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Também é dia de Zalina de Freitas, minha professora do segundo ano, que deve ter sido muito generosa comigo, pois me aprovou com média 9,5.
Celebro igualmente minha terceira e pacienciosa mestra, Lourdes Vianna Morales, que me contemplou com um primeiro lugar da classe num tempo em que as colocações eram registradas no boletim de avaliação. É dia igualmente de Onia Maciel, professora do quarto ano, que deixou registrados na minha ficha três ótimos e um regular. Alguma devo ter aprontado, mas fui promovido à série seguinte.
No quinto ano, minha professora foi Gládis Machado, que também me aprovou, mas deixou duas severas recomendações: procurar melhorar a letra, procurar melhorar a ortografia. Quase 50 anos depois desta aventura encantada pela escola da infância, tive o prazer de reencontrar essa mestra da quinta série, que se identificou como leitora das minhas crônicas e me contemplou com um bilhete afetuoso: “Sinto-me orgulhosa de ter sido tua professora”, escreveu, numa caligrafia impecável.
E eu, nesse tempo todo, sequer consegui melhorar a letra. Ainda bem que nessa homenagem impressa — a elas e a todas as mestras que conduzem as crianças do país pelo mundo da leitura e da escrita —ninguém vai perceber. Não sei quantas dessas professoras citadas ainda estão neste plano da existência, mas todas continuam vivas na minha memória, no meu coração e nos cinco boletins assinados por elas que guardo carinhosamente na gaveta das minhas mais preciosas recordações.