Atingido em cheio pela dezembrite – essa síndrome do fim do ano que deixa pessoas ansiosas e deprimidas –, o homem passou a véspera da noite encantada sozinho e triste. Empoleirado num banco alto do bar da rodoviária, bebeu várias doses de refrigerante com cachaça. Já na madrugada, embriagado e sonolento, passou a mão lentamente na garrafa de Coca–Cola para umedecer os dedos e viu sair dela um gênio vestido de Papai Noel. (Aviso importante: não se trata de comercial do refri, mas sim de uma alegoria histórica sobre o Bom Velhinho).
Depois de arrotar alto, sem qualquer constrangimento, o espírito liberto da garrafa interpelou seu espantado libertador.
— Você pode fazer três pedidos, mas não demore muito que eu não tenho mais paciência para isso!
O bebum quase desmaiou de surpresa. Pensou que era uma pegadinha. Mas como o barbudo o olhava com impaciência, perguntou, meio desconcertado:
— Você existe mesmo? Qual é o seu nome?
— Haddon Sundblom! — respondeu a aparição, e complementou mal–humorado:
— Consulta o Google, banana! Primeiro pedido atendido. Venha logo com o próximo.
Ainda assustado, o homem olhou para o bar deserto à procura de apoio moral. Era alta madrugada e nem o garçom estava mais lá. Nervoso, exclamou baixinho:
— Preciso de mais um trago!
Plaft! Apareceu um copo cheio na sua frente, sem que ele percebesse de onde tinha vindo. Ao seu lado, o gênio genioso vociferou com inquietação:
— Segundo pedido atendido. Anda logo com o terceiro.
Aí o bebum se irritou. Concluiu que estava sendo humilhado pelo velhote e procurou organizar as ideias para dar o troco. Tomou um gole para firmar a mão, apontou o dedo indicador para o nariz do abusado e ordenou:
— Quero que você volte para a garrafa!
Ao que o gênio, ainda mais insolente, respondeu:
— Nem que a rena tussa!
E saiu caminhando firme porta afora, na direção do box 25, onde um vistoso trenó estava estacionado. O bebum ainda gritou:
— Como assim? E o terceiro pedido?
Só ouviu uma risada:
— Ho! Ho! Ho! Esqueci de dizer que eu existo, mas agora você já sabe, banana!
E o trenó levantou voo, provavelmente rumo ao Polo Norte ou a algum outro bar.
***
Moral da história: neste Natal, fuja da dezembrite: beba menos e acredite mais na fantasia.