Alguém já escreveu que a vida é um grande baile de máscaras _ e que nosso desafio como seres humanos consiste em decifrar os rostos escondidos. Nunca essa metáfora foi tão verdadeira como nesses tristes dias de pandemia. Se quando andávamos com o rosto à mostra já era difícil saber o que havia por trás dos sorrisos, dos olhares e das palavras, agora ficou quase impossível perceber o que ocultam as improvisadas cortinas da face humana.
Não me refiro ao aspecto físico. Sabemos, pela convivência de longo tempo com nossos semelhantes, que os panos encobrem rostos feios e bonitos, lábios grossos e finos, narizes perfeitos e exagerados, bigodes mal-aparados e barbas bem recortadas, tudo o que vemos todas as manhãs no espelho do banheiro.
O que se tornou mais difícil de perceber são os sentimentos que os rostos humanos costumam revelar mesmo quando os cérebros que os comandam tentam disfarçar. Será que há medo por trás daquela máscara branca? E o pano floreado indicará um espírito primaveril? Haverá um beijo guardado naquela máscara negra? Quantos sorrisos escondidos e lábios espremidos transitam na multidão dispersa pelo distanciamento obrigatório?
Se antes as aparências enganavam, como reza o antigo ditado, agora elas desafiam ainda mais a nossa imaginação e a nossa capacidade de perceber os outros _ mesmo quando nos disfarçamos de observadores anônimos, protegidos por nossas próprias máscaras.