Tenho o maior respeito pelos cientistas que gastam a vida investigando o desconhecido com o propósito de beneficiar a humanidade, mas algumas descobertas me provocam mais medo do que esperanças. É o caso desse tal buraco negro, que agora foi flagrado a 55 milhões de anos-luz da Terra, sugando insaciavelmente tudo o que encontra pela frente. Pelo que consegui entender, aquele anel de fogo fotografado pelos telescópios mais poderosos do mundo seria uma espécie de ralo espacial, capaz não apenas de engolir planetas e galáxias inteiras como também de comprimi-los até que fiquem do tamanho de um grão de ervilha. Depois, se a teoria do Big Bang estiver tão certa quanto os prognósticos de Einstein e as previsões climáticas do Cleo Kuhn, é bem possível que a coisa toda exploda e dê origem a novos sistemas planetários, talvez até com um grão de areia cósmica capaz de produzir e abrigar vida. Até parece que já vimos esse filme.
Pelo delírio acima, o leitor mais atilado já deve ter percebido que este cronista é que tem buracos culturais, especialmente no que se refere à astrofísica e a outras matérias mais técnicas e científicas. Realmente, faltei a essas aulas, pois sempre me preocupei mais em juntar letrinhas para tapar meus próprios buracos gramaticais. Muitos, infelizmente, continuam abertos, mas tenho me esforçado para recapeá-los.
Também por isso, evito dedicar à nova descoberta científica os adjetivos superlativos que ouvi de vários colegas de ofício:
– Extraordinário! – disse um.
– Espetacular! – saudou a moça da TV.
– Grande feito! – afirmou o apresentador do noticiário.
Talvez seja tudo isso o tal buraco negro devorador de mundos. Eu, na minha santa e confessada ignorância que só não chega ao extremo de achar que a Terra é plana, só tenho um breve comentário a fazer:
– Que medo!