Minha tia Izabel completou cem anos no último domingo lúcida nos pontos do seu tricô, independente nos movimentos e cercada pelo carinho dos filhos, familiares e amigos. Seu marido Florêncio, maranhense que aportou por estas bandas no início do século passado, já não estava entre nós para celebrar – mas também concluiu o seu centenário de vida antes de partir para outra dimensão. Considerando esta rara coincidência, costumo brincar com meus primos e primas, filhos do casal longevo:
– Vocês vão viver 200 anos!
Mais importante do que simplesmente estender a nossa passagem pelo planeta é viver bem, com saúde, alegria e consciência das limitações impostas pela idade. Como disse o irlandês Jonathan Swift, autor de As Viagens de Gulliver, todos querem viver muito, mas ninguém quer ser velho. E o mais interessante é que sempre imaginamos haver uma fórmula mágica para a longevidade. Quando contei a um jovem vizinho sobre o aniversário da minha tia, ele me questionou, admirado:
– E o que é que ela come?
De tudo, pelo que sei, mas sempre moderadamente. Comer, rezar e amar – como sugere o livro de Elizabeth Gilbert transformado em filme – estão entre os seus hábitos diários, além de tricotar. Ela costuma aquecer o próprio café, faz suas orações na companhia da irmã de 95 anos, minha mãe (o que também me habilita geneticamente a uma boa prorrogação), e expressa constantemente seu amor incondicional pelos filhos, netos e bisnetos. O mais intrigante é que nunca se queixa de qualquer dor.
Porém, se tivesse que indicar uma razão para sua abençoada longevidade, cravaria no item generosidade. O tricotar diário já resultou em dezenas de casaquinhos distribuídos a crianças carentes no inverno. Seus presentes de aniversário foram – a pedido dela e dos filhos – alimentos não perecíveis e chocolates para serem doados a entidades sociais na véspera da Páscoa. Nada científico, mas acredito que pessoas generosas, principalmente em tempos de tanto egoísmo, merecem um bônus no calendário da existência.
Segundo o IBGE, o Brasil tem atualmente mais de 20 mil centenários – e esse exército de cabelos prateados aumenta a cada ano, razão da urgência de novas políticas públicas e do atual debate em torno da reforma da Previdência. Na verdade, a população idosa cresce em todo o mundo. E, cada vez mais, encontramos pessoas velhas com cérebro jovem, saudáveis, produtivas e bem-humoradas. Outro dia, uma britânica celebrou seu 102º aniversário saltando de paraquedas – aventura que este acrofóbico escriba jamais teria coragem de encarar. Há centenários trabalhando, escrevendo, cozinhando e até usando a tecnologia. No ano passado, morreu aos 107 anos a chef indiana Karre Mastanamma, que tinha 2 milhões de seguidores no YouTube e era especialista em cozinhar ovos de ema.
Mas, por favor, poupem as emas. Certamente não são elas o segredo da longevidade. Na dúvida, façam tricô.