Tinha uma multidão concentrada no Parque do Povo, na cidade paraibana de Campina Grande, no último sábado, para acompanhar o sorteio da Mega Sena e da Quina de São João. Os sorteios são públicos, fiscalizados por auditores independentes e pelos próprios apostadores que se reúnem em torno do Caminhão da Sorte, da Caixa Econômica Federal. Quando o globo automático gira com as bolinhas numeradas, uma pessoa do público é convidada a pressionar o botão que faz com que uma delas caia e indique a dezena sorteada. São bolinhas de borracha maciça, aferidas periodicamente pelo Inmetro para ter o mesmo peso e a mesma medida. Diante de tanta transparência, fica ainda mais difícil de explicar os seis números da mesma dezena sorteados no último fim de semana, o que aconteceu pela primeira vez em 2.052 concursos, desde que esse tipo de aposta foi lançado no país, em março de 1996.
Foram sorteadas as dezenas 50, 51, 56, 57, 58 e 59. A inacreditável sequência já seria suficiente para despertar suspeitas se não houvesse ganhadores. Porém, quando a apuração apontou quatro apostas premiadas, a gritaria foi grande. Ainda que a marcação da esdrúxula sequência possa ser explicada pelos bolões, que cobrem linhas inteiras das cartelas de aposta, quase ninguém acredita que se tratou apenas de uma megacoincidência. O tribunal das redes sociais já sentenciou: fraude, armação, roubo. Tem gente pedindo até CPI, numa curiosa revisão de conceito sobre os políticos que, até então, eram os primeiros da lista de suspeitos por qualquer coisa errada no país.
Detesto teoria da conspiração, mas começo a achar que até o acaso está contra nós. Depois da Lava-Jato e dos sustos na Copa, precisávamos de mais essa bola nas costas?
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O poder do acaso é imenso, mesmo para quem acredita que nem o acaso ocorre por acaso. No seu livro O Andar do Bêbado – Como o acaso determina nossas vidas, o físico norte-americano Leonard Mlodinow conta a história de um homem que ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48. Ao explicar a associação de ideias que o levou a escolher aquele número, ele disse: "Sonhei com o número 7 por sete noites consecutivas. Como 7 vezes 7 dá 48, escolhi o bilhete".
A lição da conta errada: se você acha que uma coisa é certa, então ela será, não importa que não seja. Deve valer o mesmo raciocínio para quem acha que há armação em tudo. Ainda assim, entre o acaso e a suspeita, penso que sempre há espaço para o livre-arbítrio, o esforço e a persistência.
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É o que espero da Seleção Brasileira nesta quarta-feira. O futebol também é regido pelo acaso e por suspeitas (principalmente sobre árbitros que não veem empurrões na área), mas o que vale mesmo é o suor, o talento e a determinação. Além disso, sonhei duas noites seguidas com o Gabriel Jesus. Nove dividido por 2 dá quatro: 4 a 1 para nós.
Sonhem positivo, gente! Não me derrubem.